As vitórias nos leilões de privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) renderam ao empresário paulista Benjamin Steinbruch o título de “homem de aço”. Em menos de cinco anos, ele arrematou duas jóias da Coroa: em 1993, comprou a gigante nacional do aço; em 1997, a maior produtora de minério de ferro do País. Através do grupo Vicunha, capitaneado pelo próprio, o sucesso empresarial de Steinbruch cresceu nesses últimos anos na mesma proporção de seu endividamento. Depois de passar praticamente toda a década de 90 comprando ativos, o empresário entrou em 2000 vendendo. Desfez-se da Light, pediu financiamento ao BNDES para bancar o descruzamento das ações da CSN e da Vale em março do ano passado e, nas últimas semanas, voltou a ser o foco das atenções. Desta vez fala-se nas negociações entre a CSN e a siderúrgica anglo-holandesa Corus.

Steinbruch se fechou em copas e não fala do assunto até que o acordo seja fechado. Executivos da CSN, no entanto, passaram a última semana em Londres negociando os termos do acordo com a Corus. Conta a favor da siderúrgica brasileira o fato de a anglo-holandesa já ter manifestado interesse em expandir seus negócios na América do Sul. Conversas preliminares chegaram a ocorrer com outras siderúrgicas nacionais, só que a maioria delas já tinha sócios estrangeiros como a Nippon Steel e a Arcelor. O diretor-executivo da Corus, Tony Pedder, chegou a vir várias vezes ao Brasil para costurar um possível acordo e teria optado pela CSN, por ser a única siderúrgica 100% verde-amarela.

O assunto não é comentado publicamente pela CSN, mas na quinta-feira 4 foi encaminhado um comunicado oficial à Comissão de Valores Mobiliários (CVM): “Tendo em vista a estratégia de internacionalização das operações, a CSN informa que tem mantido conversações com diversas empresas, entre as quais o grupo Corus.” Especialistas do setor acreditam que o acordo com a Corus poderia esbarrar na dívida que o grupo Vicunha contraiu com o BNDES. Seria um débito em torno de
R$ 600 milhões com o banco e outros credores para financiar o descruzamento das ações da CSN com as da Vale. O BNDES teria ficado com as ações de controle da siderúrgica como garantia. Isso significa que, se essas ações viessem a ser vendidas, o lucro deveria ser compartilhado com o banco.

O BNDES vem acompanhando o desenrolar das conversas, mas também não fala oficialmente sobre o assunto. Comenta-se que o acordo entre a CSN e a Corus passaria por uma troca de ações e não uma venda direta de papéis. A CSN ficaria dona de 20% do capital da Corus e a empresa anglo-holandesa teria 30% das ações da CSN. Extra-oficialmente, um diretor do BNDES admitiu que a preocupação é não perder dinheiro no acordo que está sendo discutido. Ou seja, evitar que Steinbruch venda, no futuro, as ações da Corus, independentemente da cláusula restritiva acertada quando do financiamento do banco para pagar o descruzamento das ações da CSN e da Vale.

Vantagens – Num recente relatório distribuído aos investidores da Fator Doria Athering S/A Corretora de Valores, a aproximação entre a CSN e a Corus foi discutida. “A princípio, a operação parece mais vantajosa para a Corus do que para a CSN, pois a siderúrgica anglo-holandesa é ineficiente do ponto de vista operacional e vem tentando focar na atividade siderúrgica, vendendo ativos fora deste negócio.” O relatório diz ainda que “a Corus conseguiria entrar na América Latina através de uma companhia com o melhor desempenho operacional do mercado brasileiro, já que tem margens superiores à média mundial”. Analistas de mercado concordam parcialmente com essa análise. Para eles, a principal vantagem do negócio para Steinbruch seria conseguir dinheiro para saldar suas dívidas. Analistas mais pessimistas chegam a afirmar que, caso o empresário não feche o acordo com a Corus, existiria um plano B na gaveta: um pedido de concordata que serviria para dilatar os prazos de pagamento ao BNDES.

A CSN, uma das principais siderúrgicas do País, registrou no primeiro trimestre do ano um prejuízo de R$ 197,4 milhões. O resultado ficou 2% abaixo daqueles verificados no mesmo período do ano anterior. A CSN, que já ocupou o primeiro lugar no ranking nacional, hoje perdeu espaço e foi superada pela Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e pela Usiminas. A Corus, por sua vez, é o sexto maior produtor mundial de aço e pretende centrar suas operações nesse segmento, daí por que vendeu no começo do mês sua participação numa empresa de inox e pretende se desfazer das operações da área de alumínio. É ou não é um perfeito casamento de interesses?