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CRISE
Ensaio da Mangueira: problemas trabalhistas e junto ao Ministério da Cultura

Há quase um século, Portela e Mangueira rivalizam no Carnaval carioca. A primeira tem 21 títulos de campeã e a segunda, 18. Não deixa de ser, portanto, uma triste curiosidade o fato de as duas estarem, agora, disputando qual agremiação está mais afundada na crise. Ambas estão impedidas de captar recursos de patrocinadores, via Lei Rouanet. A inadimplência da Portela inclui projetos dos ministérios do Turismo e do Esporte, enquanto a Mangueira tem sofrido derrotas na Justiça Trabalhista. A situação financeira caótica ameaça a beleza do Carnaval dessas tradicionais escolas e se reflete na lentidão nos preparativos nos barracões. Atrasos de pagamento acarretaram processos judiciais e a debandada de mão de obra qualificada.

No ano passado, a Portela teve autorização do Ministério da Cultura para arrecadar até R$ 5,3 milhões com patrocínio e está até hoje inadimplente na prestação de contas. Ainda está com o nome sujo no Ministério do Esporte, do qual recebeu R$ 1,8 milhão em 2007, mas não comprovou a realização das despesas. Da pasta do Turismo também não pode obter nada porque pairam suspeitas sobre a destinação de R$ 525 mil liberados em 2005. Sem essas fontes, os salários dos funcionários não é depositado com a devida pontualidade. Um ensaio chegou a ser prejudicado no fim do ano passado por corte de fornecimento de luz.

“Em 65 anos de Portela, isso nunca tinha ocorrido. É preciso pessoas com inteligência e amor à escola à sua frente”, afirma Monarco, cantor e compositor da Velha Guarda da Portela. Ele aposta numa reviravolta, com entrada em cena do filho do atual presidente, Nilo Figueiredo Júnior, para reverter o atraso no preparo de alegorias e fantasias.

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VAZIO
Barracão da Portela um mês antes do desfile: preparativos atrasados

A Mangueira também está inadimplente junto ao Ministério da Cultura e empresas não podem associar suas marcas à Verde e Rosa e obter benefícios fiscais do governo. Problemas na prestação de contas do Carnaval de 2009 são o empecilho. Naquele ano, a agremiação chegou a captar R$ 1,1 milhão. Falta de clareza na documentação de projetos culturais, obtidos junto à Petrobras, também mancham o nome da escola junto à administração pública. A gestão do presidente Ivo Meirelles, cuja reeleição virou caso de polícia e está sub judice, enfrenta ainda questões trabalhistas.

Com pagamentos em atraso, muitos operários pularam para o barracão de concorrentes e entraram com processos na Justiça. Nove deles, em fase de execução, não foram honrados. O coreógrafo Carlinhos de Jesus, ex-Mangueira e hoje na Vila Isabel, lamenta o que acontece: “Meu coração é verde e rosa. Fico muito triste porque vivi uma Mangueira completamente diferente”. A Mangueira não respondeu à ISTOÉ.
A Portela disse que está honrando suas dívidas e que o pessoal do barracão está virando noite para disputar o título.

Foto: Roberto Moreyra/EXTRA/Agência O Globo