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AO TRABALHO
Acompanhado por senadores republicanos e democratas, e pelo
vice-presidente Joe Biden, Obama dá início ao segundo mandato

Discursos de posse são, em geral, conciliadores. Foi assim em 2009, quando Barack Obama falou pela primeira vez como presidente dos Estados Unidos. À época, o democrata acenou para o bipartidarismo, falando em “unidade de objetivos acima do conflito e da discórdia”. Passados quatro anos, marcados por muitos fios de cabelos brancos a mais, Obama mudou a retórica. Foi o primeiro presidente a aproveitar a ocasião para fazer uma referência direta ao casamento gay, além de defender os programas sociais de seu governo e os imigrantes, e demonstrar preocupação com os impactos das mudanças climáticas. A postura mostrou que Obama está mais do que nunca disposto a confrontar os ideais do Partido Republicano.

A reação foi imediata. O senador John McCain, adversário de Obama em 2008, reprovou o tom da fala do presidente. “Não houve, como eu vi em outros discursos de posse, um ‘eu quero trabalhar com meus colegas’”, disse ao jornal americano “The New York Times”. Para John Hudak, especialista em estudos de governança do Instituto Brookings, de Washington, a campanha eleitoral do ano passado foi uma das mais agressivas da história e as feridas da polarização entre democratas e republicanos parecem não ter cicatrizado ainda. “Os liberais e democratas acharam o discurso profundamente visionário, enquanto os republicanos o viram como uma provocação”, disse à ISTOÉ.

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GLAMOUR
Depois da posse, Obama e sua mulher, Michelle, exibiram toda a sua elegância
no tradicional baile de gala que ocorreu no Centro de Convenções Walter E. Washington

A mudança da retórica do presidente mostra que, embora a conciliação de seus interesses com os dos republicanos seja fundamental para tirar projetos do papel, o que Obama quer é deixar um legado importante. E, para isso, é preciso avançar em temas progressistas caros à sua base eleitoral – mulheres, jovens, negros e latinos. “Nossa jornada não estará completa enquanto não encontrarmos uma maneira melhor de receber os imigrantes jovens”, afirmou na posse. Ainda assim, a promessa de uma reforma imigratória também esteve presente em 2009 e isso não impediu que Obama deportasse mais que seus antecessores. “A diferença é que agora o presidente reconheceu, numa extensão muito maior, a importância do voto latino para sua vitória”, disse à ISTOÉ Antonio González, presidente do Instituto William C. Velásquez, do Texas. Sua ampla vantagem nesse grupo foi decisiva em Estados como a Flórida, o que também refletiu numa mudança na postura dos republicanos. Para González, “neste ano, é provável que vejamos o início da reforma da imigração, mas não a conclusão desse processo.”

O problema é que ele precisará da maioria no Congresso se quiser enfrentar o poder do sistema financeiro internacional, comandar a retomada do emprego, do crescimento econômico e empunhar a bandeira dos programas de bem-estar social, temas estes que deveriam ser prioridade em seu segundo mandato. Pelo menos é o que aguarda o conjunto da sociedade americana. A tarefa não será fácil. Durante os primeiros quatro anos na Casa Branca, Obama enfrentou dificuldades em negociar com a oposição. Em 2010, os republicanos venceram as eleições legislativas e ganharam o controle da Câmara dos Representantes, obstruindo projetos importantes para o governo, como a reforma da saúde. No ano seguinte, a decisão sobre o aumento do teto da dívida pública só saiu na véspera do fim do prazo para o calote, o que custou aos EUA o rebaixamento dos títulos do Tesouro pela agência Standard & Poor’s. Já em 2013, um acordo no Senado evitou o abismo fiscal e a Câmara aprovou a suspensão do teto da dívida, mas só depois de meses de discussões. Esta é a última chance para Barack Obama fazer história, e ele sabe disso. Pela lei americana, o presidente só pode ter dois mandatos. Segundo o britânico “The Guardian”, após a apresentação da cantora Beyoncé ao fim da posse, o presidente voltou para o palco montado no Capitólio para observar a plateia de 600 mil pessoas. Seu comentário foi capturado por um microfone: “Nunca mais verei isso de novo.”

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Fotos: Jonathan Ernst/AFP PHOTO/POOL; Brian Snyder/Reuters