Mal saiu da disputa pela Presidência e o ex-governador Anthony Garotinho (PSB) já se meteu em outra briga. Desta vez o opositor é uma cria política do próprio Garotinho: o prefeito de sua cidade natal, Campos, Arnaldo Vianna. Desde a terça-feira 29, o ex-governador se dedica a desfiar um rosário de denúncias sobre a gestão de Vianna, que se elegeu com seu apoio. As acusações tratam de superfaturamento de casas populares, contratação milionária e sem licitação de empresa de limpeza urbana, contratação de artistas por preços bem superiores ao de mercado e enriquecimento ilícito do secretário particular do prefeito, entre outros escândalos. “O certo seria que Vianna afastasse os secretários envolvidos, e ele não quer fazer isso. Vai ser expulso do PSB”, anunciou Garotinho a ISTOÉ. O prefeito minimiza as denúncias, afirma que vários de seus secretários foram também colaboradores de Garotinho e insinua que o verdadeiro motivo da onda de acusações é a preocupação do ex-governador com a ascensão política da primeira-dama da cidade e ex-secretária municipal de Planejamento, Ilsan Vianna. “Por que somente agora ele está vendo tantos defeitos na minha gestão?”, questiona.

A cidade de Campos tem importância estratégica para Garotinho. O lugar é identificado como seu berço político, um repositório de votos para ele e sua mulher, a governadora eleita do Rio, Rosinha Garotinho. Campos é também importante economicamente, já que de seu litoral são retirados 80% de todo o petróleo do Brasil, gerando R$ 200 milhões anuais em royalties para a prefeitura. Pelas denúncias, essa abundância de recursos foi mal aproveitada pelo prefeito. Um dos casos mais escandalosos foi a contratação da empresa de limpeza urbana. Depois de rescindir o contrato da Ecolurb, que cuidava da tarefa, a prefeitura alegou situação de emergência para contratar sem licitação a Queiroz Galvão por um preço muito maior. A Ecolurb recebia R$ 1,5 milhão por semestre e a Queiroz Galvão fechou um contrato de R$ 8,4 milhões pelo mesmo tempo. “A nova empresa passou a prestar serviços adicionais, como tratamento do lixo”, tenta justificar o prefeito. Mas não se entende por que a prefeitura resolveu aumentar tanto os gastos justamente numa contratação de emergência e sem licitação.

Vianna é cobrado também quanto ao custo das 80 casas populares feitas no distrito de Rio Preto para os desabrigados das chuvas do início do ano. Segundo as contas de Garotinho, cada unidade saiu por R$ 33 mil. “Isso não é preço de casa popular”, ataca. Obra também contratada sem licitação, sob a mesma alegação de situação emergencial, as casas começaram a ser levantadas apenas quatro meses depois das chuvas. “Nesse tempo poderia ser feita a licitação”, diz o ex-governador. Vianna está sendo obrigado a explicar por que a dotação orçamentária do gabinete do prefeito é de R$ 70 milhões por ano, muito superior a de secretarias importantes – a de Agricultura, por exemplo, tem orçamento de R$ 6 milhões. “O gabinete do prefeito centraliza 17 gerências que servem para agilizar a administração”, argumenta o prefeito. Difícil entender por que um órgão nascido para agilizar a máquina administrativa tenha recursos tão superiores a secretarias que executam os serviços. Campos, aliás, tem um número impressionante de secretários municipais: 30. Outra irregularidade seria o fracionamento dos valores de várias obras públicas, com o objetivo de mantê-las abaixo do valor a partir do qual a licitação é exigida. É muito comum encontrar na cidade placas de empreiteiras contratadas por carta-convite para fazer dois trabalhos em uma mesma rua.

Enriquecimento – Dos acusados pelas irregularidades, dois são especialmente próximos ao prefeito. O secretário particular Jorge Luiz Gomes, conhecido como Chocolate, é acusado de ter comprado nos últimos dois anos cinco carros e duas casas de valores superiores a R$ 100 mil, recebendo um salário que não passa de R$ 2,5 mil. Chocolate pediu afastamento temporário do cargo até que o Ministério Público investigue tudo. A colaboradora mais íntima é Ilsan Vianna, mulher do prefeito, que ocupava a secretaria de Planejamento até se licenciar para concorrer a suplente de senador na chapa do pastor Manoel Ferreira (PPB), que não se elegeu. As principais denúncias contra Ilsan tratam de sua gestão à frente da Fundação Cultural Teatro Trianon, quando contratou vários artistas para fazer shows na cidade. Nomes como Ângela Rô Rô, Zélia Duncan e Zeca Baleiro passaram por lá. A fundação pagou não só os artistas, mas também seus promotores, o que inflacionou os preços dos cachês. Segundo parecer do Tribunal de Contas do Estado, que analisou o caso, é ilegal usar dinheiro público para pagar intermediários.

Muitos dos fatos não são desmentidos pelo prefeito, que se ocupa de explicá-los. Mesmo diante da confirmação de várias denúncias, não se sabe por que somente agora Garotinho resolveu fazer as denúncias, uma vez que muitas irregularidades são antigas. “Ouvia falar que tinha algo errado, mas não tinha provas. Agora tenho”, argumenta o ex-governador. Vianna aparenta tranquilidade: “Eu gosto de jogar xadrez, ele também. Vamos ver qual será o próximo lance”, afirma, enigmático.

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