Casamento e família sempre dão boas histórias, não raramente as mais hilariantes comédias. A jovem escritora paulistana Noêmia Sartori Ponzeto, já premiada como contista, usa e abusa dessa união para escrever um livro delicioso. Sonhos de galinheiro (Editora Talento, 68 págs., R$ 21) põe a família na roda: o marido cheio de peculiaridades, a mulher servil, os filhos jovens sempre se dizendo enfadados com as cobranças. Todos têm nomes duplos. Nestor Roberto, o pai, sonha se aposentar, comprar um sítio e criar galinhas; Ester Elisa, a mãe, sonha com o dia em que terá um apartamento de três quartos e uma suíte; Norberto Heitor e Ester Elisabete são os filhos de 18 e 16 anos.

Noêmia utiliza de muito humor para, no decorrer da história, colocar em foco os valores da classe média – média mesmo. E se esbalda na descrição da transformação dos pequenos sonhos acalentados em situações surrealistas. Ao decidir mudar de vida e realizar um sonho, Nestor Roberto levou para casa Carlos Gardel, um vigoroso galo, e Rosemary, sua partner, que acabaria tendo um destino fatal nas mãos zelosas de Ester Elisa. É quando a autora mostra a sua imaginação afinada. O projeto grandioso de Nestor Roberto – produzir frangos para o McDonald’s, penas para a Probel e caldo para a Maggi – acaba por transformar o apartamento num próspero galinheiro. Daí em diante, a construção do sonho inatingível subverte até os bons modos de Ester Elisa, ocasião em que ela descobre que uma receita não é só dividida em duas partes – “ingredientes” e “modo de fazer”.

Sonhos de galinheiro

é uma viagem curta e saborosa às manias que fazem do casamento uma grande comédia. Pode durar mais do que a toalha de linho bordada à mão do enxoval, mas não escapa de desbotar.