Nem só de fazer a cabeça de celebridades vivem os importantes salões de beleza de São Paulo. Boa parte deles está ajudando a transformar não só o visual, mas também a vida social e profissional de centenas de moças e rapazes de baixa renda da capital. Famosos como os salões Studio W, Jacques Janine, L’Equipe, MG Hair, Beka Internacional, entre outros, têm em suas equipes cabeleireiros e manicures que se formaram por meio do Projeto Tesourinha (www.projetotesourinha.org.br). O cabeleireiro Ivan Stringhi, do L’Equipe, idealizador do projeto, já iniciou na profissão mais de sete mil jovens e adultos, com idades entre 16 e 35 anos. Desses, pelo menos 70% estão no mercado de trabalho. “Nós nos tornamos um celeiro de profissionais para os grandes salões de São Paulo”, conta Stringhi. O centro de formação tem duas unidades localizadas nas zonas oeste e sul da capital.

Jovens como Daniela Eugênio da Silva, 22 anos, e Vitalino Pereira Campos Neto, 19 anos, colegas de trabalho no Studio W do Shopping Iguatemi, em São Paulo, reconhecem a importância da oportunidade que tiveram. “Encontrar emprego sem experiência e sem ter uma profissão é muito difícil. Hoje, sou uma profissional, tenho trabalho e um salário que me permite ajudar a minha família e comprar o que quero”, conta Daniela, que chega a receber até R$ 2 mil por mês. O baiano Vitalino, que aos 14 anos deixou a escola para trabalhar como cobrador no transporte alternativo, acha que o Projeto Tesourinha lhe deu muito mais que uma profissão. “Virei uma pessoa responsável e preocupada com o futuro. Administro meu salário e ajudo minha mãe, que mora na Bahia. Quero voltar a estudar, comprar uma casa, um carro e ser alguém na vida”, planeja ele, que ganha cerca de R$ 1,5 mil por mês.

Não são apenas as aulas práticas e teóricas que formam esses profissionais. Antes de aprenderem a manusear tesouras, pentes e alicates, os alunos participam de palestras em que discutem cidadania, drogas, sexo, violência e família. “Nosso trabalho é promover o crescimento dessas pessoas. Queremos formar cidadãos com perspectiva de vida, esperança e, acima de tudo, salários dignos”, afirma Stringhi. Foi com essa expectativa que o cabeleireiro decidiu dividir os “louros” da profissão com pessoas que dificilmente teriam condições de conseguir uma colocação no mercado de trabalho. “Comecei dando aulas como voluntário em uma igreja num bairro carente. Em pouco tempo o espaço ficou pequeno para tanta gente. Surgiu a idéia de criar o projeto. Como tinha contato com muita gente importante, pedi ajuda para criar o Tesourinha”, conta ele. O apoio de colegas de profissão e parcerias com a prefeitura e com indústrias de cosméticos permitiram a manutenção do projeto. Hoje, empresas como a Payot, Niasi, Unilever, Seda e Shizen patrocinam a ampliação da sede do projeto, que fica embaixo do viaduto Bandeirantes, na zona sul da cidade (tel.: 11 5096-5806).


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