Há menos de uma década, o mais recente fenômeno da literatura internacional não sabia escrever duas frases seguidas em inglês. No máximo, conseguia se salvar como turista. A transformação se deu por acaso. Na esteira de um programa de intercâmbio cultural, o bósnio Aleksandar Hemon, 38 anos, visitava Chicago quando a guerra eclodiu em sua cidade, Saravejo. Atordoado com as cenas de violência que assistia pela CNN, Hemon decidiu não voltar para o local sitiado. Mesmo assim, virou uma espécie de refém das imagens dos campos de concentração exibidas pela rede de televisão. Num primeiro momento, pensou em procurar um psiquiatra. Depois, a distância, preferiu entrar em sintonia com sua pátria riscada do mapa. Para tanto, abandonou a referência linguística natal e mergulhou no idioma do país que o acolhera. Deu certo. Três anos depois, em 1995, Hemon escrevia o primeiro dos oito contos que formam o romance E o Bruno? (Rocco, 218 págs., R$ 29).

Lançado nos Estados Unidos em 2000, o livro foi recebido pela crítica americana como um dos melhores do ano. Na Europa, está seguindo a mesma trilha de sucesso. Passado entre Saravejo e Chicago, E o Bruno? retrata com objetividade desconcertante os traumas de uma guerra e os desencontros de um refugiado no estrangeiro. Sensibilidade e humor sarcástico misturam-se nos oitos contos autônomos, às vezes entrelaçados pelos mesmos personagens, outras por cenários ou referências que, à primeira vista, parecem insignificantes. Ao final, a sensação do todo é incontestável. O livro é inspirado na trajetória do autor, conhecido entre os americanos pelo apelido de Sacha. Ele próprio assume que muitos detalhes são autênticos, mas foram recontados para entrar em harmonia com a composição literária.