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PROTEÇÃO
Assange está asilado na Embaixada do Equador, em Londres: ele defende o
uso de informações pessoais codificadas para garantir o anonimato do internauta

Foragido de uma prisão domiciliar e atualmente em asilo político, o ciberativista australiano Julian Assange acompanha no conforto da Embaixada do Equador, em Londres, mais uma polêmica na sua trajetória de fatos bombásticos: a repercussão de seu primeiro livro, “Cypherpunks: Liberdade e o Futuro da Internet” (Boitempo Editorial), que acaba de ser lançado no Brasil. Entre as inúmeras denúncias ao poder velado de governos e corporações no uso das ferramentas digitais, Assange não se vale de meias palavras: “A internet é uma ameaça à civilização humana”, escreve. A publicação é uma conversa entre o fundador do WikiLeaks (o site que tornou públicos documentos secretos da administração de vários países) e outros três defensores dos direitos de anonimato na rede. O assunto dominante é a vigilância sobre toda ação online, como se uma guerra estivesse em curso. Episódios usados para comprovar a tese não faltam. Eles lembram, por exemplo, a estratégia da defesa americana em usar um vírus de computador batizado de Stuxnet para atrasar o programa nuclear iraniano. Ou a aparentemente inofensiva competição chamada Spawar, criada com o apoio da Marinha dos EUA para adestrar jovens estudantes contra ataques cibernéticos – obviamente, de olho nos garotos mais bem-sucedidos. Os cypherpunks (punks de escrita cifrada) a que se refere Assange – e com os quais ele debate no livro – são integrantes de um grupo que defende a criptografia de dados (codificação de informações pessoais, de forma a garantir a privacidade) e que ficou famoso durante a Primavera Árabe, quando o uso da internet nos países em conflito foi censurado. A perseguição ao WikiLeaks se enquadraria no mesmo movimento global de censura e vigilância.

O quarteto descreve o monitoramento nas comunicações online como algo digno de um episódio do seriado “24 Horas”. Para eles, já é possível, por meio de uma simples palavra-chave, rastrear um telefonema e encontrar a pessoa dona do aparelho. Numa revelação temerosa – e não isenta da antiga teoria da conspiração –, Assange afirma que pela quantia de US$ 10 milhões é possível comprar um aparato capaz de armazenar todas as trocas de informação em um país de porte médio, como telefonemas, e-mails, mensagens de texto, etc. O controle absoluto abarcaria não apenas a comunicação online, mas também o seu uso em computadores de carros, aviões e mesmo em próteses corporais, ideia desenvolvida por Isaac Asimov na ficção científica “Eu, Robô”.

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As redes sociais, claro, são alvo de duros ataques. Um dos debatedores chega a comparar o Facebook à Stasi, polícia secreta da Alemanha Oriental que pagava delatores em troca de informações. “Só que no Facebook as pessoas são recompensadas com créditos sociais – ir para a cama com a vizinha – em vez de serem pagas diretamente”, critica Jacob Appelbaum, desenvolvedor de softwares e participante de projetos para promoção do anonimato na rede. Assange e os outros debatedores não chegam a um consenso em relação ao que pode ser feito pelo cidadão comum em defesa de sua privacidade. Eles apontam que um Estado democrático tem todo o direito de fazer uso da vigilância online para encontrar redes de pedofilia, combater a venda de drogas e outros crimes comuns. Chegam até a discutir maneiras de abrir essa brecha legal sem que todos os usuários da internet sejam alvo do controle desse imenso “serviço internacional de inteligência”. Por um lado, apontam leis que poderiam proteger o cidadão de ter seus dados expostos; por outro, defendem o uso da criptografia para todos. Em busca de uma imagem para o cenário que ele descortina, Assange compara essa vigilância a uma arma de destruição bélica. “Quando ela (a bomba atômica) foi construída, toda a geopolítica mudou (…). Um movimento regulamentar impôs controles e até o momento esses controles têm nos poupado, com a exceção do Japão, da guerra nuclear. Mas não é fácil saber em que situações essas armas estão ou não sendo usadas”, afirma ele, desenhando um panorama de guerra fria digital em que todos estariam sendo espionados.  

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