Aos prantos, a vice-diretora do Museu Nacional do Iraque, Nabhal Amin, anunciou no sábado 12 o roubo e a destruição de 170 mil peças com mais de sete mil anos de idade. São artefatos que contam a história das civilizações que povoaram a antiga Mesopotâmia, como os sumérios, que inventaram a escrita, os babilônios e os assírios, povos responsáveis pelo desenvolvimento da astrologia e da astronomia, pela invenção da roda e do mais antigo código de leis, criado pelo rei babilônico Hammurabi, em 1775 a.C. Entre os tesouros saqueados estavam peças do cemitério real de Ur, cidade onde, segundo a Bíblia, teria nascido o patriarca judeu Abraão, o precursor de todas as religiões. O acervo é avaliado em bilhões de dólares e representa uma perda incalculável para a humanidade.

O que chocou o mundo foi o descaso das tropas anglo-americanas. Antes da guerra, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) solicitou a George W. Bush proteção especial aos museus e sítios arqueológicos iraquianos. Os soldados nada fizeram para conter a brutalidade dos saqueadores. O único local fortemente guardado pelos marines foi o prédio do Ministério do Petróleo. “Responsabilizo as tropas americanas pelo que aconteceu neste museu”, acusou Nabhal. “Bastaria um tanque e alguns soldados para evitar o roubo”, disse Eleanor Robson, da Universidade de Oxford. A barbárie destruiu também outros acervos importantes. A Biblioteca Nacional, onde estavam os exemplares mais antigos do Alcorão, foi incendiada.

Na primeira guerra do Golfo, os iraquianos saquearam o Museu do Kuait, mas entregaram à Unesco um inventário de todas as peças levadas, que foram devolvidas ao final do conflito. Isso não deve se repetir agora. A maioria dos tesouros roubados já tem comprador certo entre colecionadores particulares. Outras peças devem seguir para o mercado negro, numa rota que vai de Londres até o Japão, passando por Israel. “Foi uma ação orquestrada de quadrilhas que sabiam o que estavam roubando e não um ato da população iraquiana, como os americanos fazem parecer”, diz a historiadora gaúcha Katia Pozzer, da Universidade Luterana do Brasil. A extensão da catástrofe deve vir a público em breve. Uma missão de 25 especialistas da Unesco vai avaliar os estragos nos museus saqueados e nos estimados 500 mil sítios arqueológicos existentes na região que foi o berço da civilização.