Articular, segundo o dicionário, significa “estabelecer contatos” e “fazer combinações”, algo inerente ao próprio exercício da política. No vocabulário parlamentar, a palavra também quer dizer “persuadir”. Essas três funções serão as principais missões do petista Aloizio Mercadante, o senador mais votado da história do País – escolhido por quase 10,5 milhões de eleitores paulistas –, no governo Lula. Antes de saber que seria eleito por tão expressiva votação, a participação de Mercadante no Executivo, ocupando um cargo na área econômica, era tida como certa por seus correligionários. Agora, disposto a assumir de fato a cadeira para a qual se candidatou, na Casa que reúne 81 representantes dos Estados, o novo senador será um canal de diálogo fundamental entre o PT e partidos de oposição no Legislativo.

“O Senado no Brasil talvez seja a instituição com maior peso entre todos os parlamentos que eu conheço. É a instância que trata com exclusividade temas extremamente importantes, como os acordos multilaterais, a indicação da presidência do Banco Central, dívida externa, rolagem da dívida pública, FMI, entre outros”, diz Mercadante, referindo-se, principalmente, às questões de economia, assunto que domina. Ao lado de Eduardo Suplicy (SP) e Roberto Saturnino Braga (RJ), ele formará a bancada de senadores-economistas do PT. Na tarefa de cooptar e convencer os que estão do outro lado da trincheira, Mercadante vai contar com a ajuda valiosa de Suplicy, para quem todas as energias dos petistas devem ser depositadas no objetivo de erradicar a fome e a miséria absoluta do País. “Esta é a prioridade e para isso é preciso compatibilizar no Orçamento da União o volume de recursos necessários”, diz Suplicy, completando: “Mercadante vai ajudar muito no diálogo com os demais partidos e ajudar a explicar quais são as diretrizes da política econômica do governo Lula. Para isso, é preciso racionalidade e bom senso, capazes de persuadir os que pensam de modo diferente.”

Como deputado federal, Mercadante esteve entre os parlamentares mais influentes do Congresso. Agora, terá de usar suas armas para ajudar o governo, e não para, por exemplo, trabalhar pela implantação de CPIs. Acostumados a batalhar pela investigação de casos e mais casos de corrupção, os deputados e senadores petistas ganharam fama de funcionários exemplares. Por isso, Mercadante, como Suplicy, também adotou a ética como uma de suas palavras de ordem. Não poderia ser mais providencial. Nos últimos anos, acontecimentos envolvendo senadores renderam à Casa uma crise de credibilidade perante a opinião pública, e a fama do Senado não anda lá essas coisas. Pudera. Só no ano passado, Antônio Carlos Magalhães (PFL) e José Roberto Arruda (PSDB) renunciaram a seus cargos depois de se verem envolvidos no escândalo do painel. Jader Barbalho (PMDB) também passou por maus bocados, junto com o correligionário Luiz Estevão, que foi cassado.
Foi graças às articulações de parlamentares petistas, como Mercadante, que o Congresso levou adiante as investigações de casos como os escândalos do Orçamento e a CPI de PC Farias.

Ao seu lado estarão mais 13 senadores do PT – dos quais seis são mulheres –, o maior número que o partido já teve. Desde 1990, quando elegeu seu primeiro representante na Casa, a bancada de senadores do partido só cresceu. Além dos 14, podem integrar a bancada governista, a partir do ano que vem, os eleitos pelo PSB (quatro), PDT (cinco), PL (três) e PPS (um). Mesmo se confirmada essa aliança, o governo Lula teria 27 votos no Senado. É pouco para ter a maioria. O caminho natural é a busca de uma coligação com o PMDB, que tem 19 senadores. Se o acordo for concretizado, um nome surge como natural para presidir a Casa: José Sarney (PMDB-AP), que apóia Lula desde o primeiro turno.