presidente do grupo Votorantim,

Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim, uma potência de R$ 8 bilhões, votou em José Serra, a quem admira e para quem fez campanha na televisão. Ermírio foi fiel ao candidato, mesmo admitindo que “o nível de empatia de Serra com o povo é zero e isso, é preciso reconhecer, não há marketing que resolva”. Para encarar a sucessão, o empresário indica sua receita habitual: muito trabalho. “Com Lula, sem Lula. O Brasil tem que crescer, criar mais empregos.”

ISTOÉ – Como será o Brasil sob a presidência de Lula?
Antônio Ermírio de Moraes

Não vai ser o fim do mundo. Mas acho que ficará mais difícil o crédito lá fora. O Brasil precisa no ano que vem de US$ 35 bilhões em déficit de capital. E a situação lá fora é muito cautelosa. Informações que eu tenho de Nova York, de Montreal, me dão a impressão de que vai levar pelo menos um ano para que eles comecem a mandar algum recurso para cá. Até que é uma medida prudente. Em se tratando de capital, o pessoal de fora é muito cauteloso, não vai mandar de graça. Eles têm que ter certeza absoluta para começar a mandar.

ISTOÉ – O sr. ficou irritado quando se referiram a Lula como estadista?
Antônio Ermírio de Moraes

É um pouco de exagero. Ele não tem nada de estadista, pelo amor de Deus.

ISTOÉ – O sr. não acha que o Lula mudou muito?
Antônio Ermírio de Moraes

O Duda (Mendonça) botou ele numa posição diferente. Isso é preciso reconhecer. Só que o Duda vai e fica o Lula… Não tenho nada contra o Lula, só me rebelei quando o chamaram de estadista, é um puxa-saquismo.

ISTOÉ – O Brasil que FHC passa para o próximo presidente está em crise?
Antônio Ermírio de Moraes

Não, o Brasil tem nome lá fora. Se ele for equilibrado, não haverá problemas. Nós estamos investindo US$ 2 bilhões e vamos continuar. Vamos continuar com Lula, sem Lula. O Brasil tem que crescer, criar mais empregos. O que nem passa pela minha cabeça é pegar esse dinheiro todo e ir morar no Exterior.

ISTOÉ – E sobre essa especulação desvairada do mercado financeiro?
Antônio Ermírio de Moraes

Isso tem consequências muito graves. Tem gente mandando muito dinheiro para fora que não é brincadeira. Isso é o que eu sei.

ISTOÉ – Isso tem a ver com a eleição?
Antônio Ermírio de Moraes

É malandragem, me dá essa impressão. É uma maneira de justificar a malandragem.

ISTOÉ – O sr. está trabalhando com a perspectiva de um choque econômico?
Antônio Ermírio de Moraes

Não, o choque vai ser exatamente na remessa de dinheiro. Vai depender muito do esforço do presidente. Apesar do nervosismo existente, é chegada a hora de aqueles que trabalham, mais do que nunca, acreditarem no Brasil, expandindo suas atividades e criando empregos.