CONTROLE A idéia agora é testar 25%
da produção para evitar fraudes

Um escândalo abala os amantes de vinho italiano. As safras mais recentes do prestigiado Brunello de Montalcino, o tinto mais celebrado do país, podem ter sido adulteradas. Produzido na cidade toscana de Montalcino, o Brunello foi o primeiro vinho italiano a ganhar a chancela de DOC (Denominação de Origem Controlada) e depois o status de DOCG (Garantida) também. Por força de lei, ele tem de ser elaborado apenas com uma cepa da uva sangiovese, típica da região, mas suspeita-se que tenha recebido uma mistura de merlot, cabernet e sauvignon. Investigadores bloquearam o engarrafamento da safra de 2003 do Brunello reserva de produtores importantes como Antinori, Frescobaldi e Argiano. Somente de Castello Banfi foram confiscadas 600 mil garrafas. Outros produtores também estão sob investigação. Todos negam as acusações.

Os investigadores desconfiam que a fraude começou em 2003 – os exemplares desta safra chegaram ao mercado no ano passado. A intenção, acreditase, era fabricar um vinho mais macio, mais palatável para certos paladares, como o dos americanos, que compram um quarto das exportações do Brunello. Descrito como um vinho encorpado, com aroma de cereja e terroso, ele custa em torno de R$ 250. Os melhores, e mais caros, exemplares dos tintos de Montalcino são equivalentes aos tops franceses, como o Château Margaux e o Château Pétrus.

DÚVIDA Os investigadores confiscaram
garrafas e bloquearam safras

Segundo a imprensa italiana, os investigadores estudaram fotografias das vinícolas e calcularam que, no espaço dedicado à confecção do Brunello, seria impossível produzir a quantidade de garrafas da safra sem que houvesse adição de outras uvas. Suspeita-se que a alteração possa chegar a 15% do conteúdo da garrafa. “Essa mistura, quando não muda a característica do vinho, pode ser benéfica. Isso aconteceu com o Chianti, também da Toscana, alguns anos atrás”, pondera o sommelier do restaurante Fasano, Manoel Beato, um dos melhores do Brasil. Antes, utilizavam-se uvas brancas na composição do Chianti. Nos anos 70, isso começou a cair em desuso e em 1995 tornou-se legal produzi-lo somente com uvas de vinho tinto. Com esse escândalo, numa tentativa de evitar adulterações, Francesco Cinzano, presidente do consórcio de produtores de Brunello, anunciou que os controles sobre a produção serão mais rígidos e que entre 20% e 25% dos tintos serão testados. Resta saber se essas medidas serão suficientes para salvar a reputação do vinho.