No choque entre a versão oficial e a da oposição, surge apenas uma luz no que se refere ao debate sobre os riscos de racionamento elétrico no País: estamos falando de política partidária e não de política energética. O tema, que há dez anos ajudou a decidir o pleito presidencial a favor do PT de Lula, tem alta voltagem eleitoral e rapidamente foi adotado pela oposição como primeira arena no longo confronto que se inicia agora e só se encerra em outubro de 2014. Há quase uma década sem munição capaz de causar sérios danos no consolidado poder petista, tucanos e seus aliados vislumbram na politização de um eventual apagão uma forma de obter revanche e se energizar para a campanha presidencial. E com a mesma arma que ajudou a abatê-los em 2002.

A diferenciar o apagão que ocorreu daquele que pode vir a acontecer, há algo bem mais substancial do que o matiz político de quem está no poder ou fora dele: a existência do próprio fato. Hoje, a despeito do temor causado pelas fotos de reservatórios com baixos níveis de água, observa-se apenas um transbordamento de especulações. Ainda no princípio da estação chuvosa, não é possível cravar que o quadro é irreversível ou se, ao final de um ciclo climático negativo, haverá segurança para a produção de energia suficiente para atender à demanda de um país que precisa crescer. Um indício forte de que a segunda hipótese é mais plausível vem das empresas com alto consumo de energia em seus processos de produção, que acompanham o setor com grande interesse econômico e pouca torcida eleitoral. Não há notícias entre elas de cancelamento de investimentos ou projetos em função do temor da interrupção de fornecimento de eletricidade.

Afastado o risco de apagão em 2013, ganha-se tempo para que conheçamos o real efeito político do debate energético. A antecipação do clima de campanha, por sua vez, serve de alerta ao governo de que é preciso executar – e com senso de urgência até agora não demonstrado – as obras necessárias para aumentar a geração e a transmissão de energia, aumentar a participação de fontes alternativas na matriz energética e conectá-las de uma vez à rede existente.