O jornalista e escritor carioca José Castello é mestre na tarefa de fundir, sempre com sucesso, o melhor do jornalismo à prosa literária. Em Pelé – os dez corações do Rei (Ediouro, 232 págs., R$ 29), ele aprimorou a técnica de fusão para exibir um resultado ainda mais animador. Erudito, em dez capítulos Castello mostra sua diversidade de recursos com naturalidade e leveza. Suas bases de apoio para a nova obra foram as histórias decisivas, as atitudes e os dilemas do maior jogador de futebol do mundo em todos  os tempos. Um conjunto com poder suficiente, como se sabe, de construir um mito aparentemente indestrutível, capaz de despertar paixões e de criar a entidade Pelé, embarcada numa “plataforma”, a de Edson Arantes do Nascimento.

A esgrima existencial entre homem e mito é exibida em dezenas de trechos de alto refinamento. Um deles: “O cidadão Edson vive, assim, a clássica experiência do homem duplicado, que desde Hoffmann, passando por Poe, Gógol e Dostoiévski, até chegar a Cortázar e Saramago, serviu de tema para a grande literatura. O exemplo mais popular das novelas de duplo é

O estranho caso do dr. Jekyll e do sr. Hide

, do escritor inglês Robert Louis Stevenson. (…) Só que no caso de Edson e Pelé, não  há o bom médico, nem há o monstro tenebroso, a lutar entre si pela supremacia de um corpo. Ao contrário, Edson e Pelé, Pelé e Edson, convivem, apesar da perplexidade, numa deliciosa harmonia.” Um gênio

do futebol retratado por um craque das letras.