Passar a noite dentro de uma piscina ou cantar por quatro horas sem parar enquanto recebe jatos de água fria no rosto e até rajadas de spray de pimenta nos órgãos genitais. Assim tem sido a rotina dos cerca de 130 novos alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP), centro de excelência de ensino no País. Os maus-tratos foram relatados por calouros hospedados nos alojamentos da instituição. Desde que chegaram lá, há 15 dias, ele dormem meia hora por noite por causa das seções de tortura. As famílias estão aflitas. “Eduquei minha filha com carinho, dei a ela boa formação e agora a vejo humilhada desse jeito”, reclama um dos pais, que não quer ser identificado com medo de represálias. Segundo ele, até os telefonemas são monitorados e as denúncias só foram possíveis porque alguns conseguiram burlar a vigilância. “Eles não podem contar o que acontece por lá.”

Em muitas universidades brasileiras o trote é proibido e tem sido substituído por ações de cidadania. Infelizmente, na maior instituição pública de ensino do País, a Universidade de São Paulo, a prática só foi abolida depois da morte de um calouro de medicina, em 1999. O veto contra também existe no regulamento do ITA, mas não evitou o abuso, que virou caso de polícia. Na semana passada, o promotor de Justiça Criminal Laerte Fernando Levai, de São José dos Campos, pediu abertura de inquérito policial. “Se forem comprovadas essas atitudes, os responsáveis poderão ser punidos pelo crime de constrangimento ilegal, que prevê pena de três meses a um ano de prisão ou multa”, esclarece Levai. A reportagem de ISTOÉ tentou falar com a reitoria do ITA, mas sua assessoria de imprensa informou que a instituição não iria se pronunciar sobre o assunto.