Judith Mair tem 30 anos, uma pequena agência de publicidade na Alemanha e um livro de sucesso no currículo. A obra, chamada Schluss mit Lustig (“Chega de diversão”, que deve ser lançada no mês que vem no Brasil), tem causado certa controvérsia entre os estudiosos de administração e provocado espanto em leigos na matéria. Tudo porque Judith simplesmente defende a volta de relações de trabalho equivalentes às dos anos 50 do século passado. Esqueça horários flexíveis, prazer aliado ao serviço, relações de amizade (e de outros tipos) travadas no escritório, trabalho em equipe, vestimenta informal… A ordem da publicitária, que diz aplicar rigorosamente o que prega, é trabalhar apenas durante o horário definido, restringir o contato com os colegas à esfera dos negócios, limitar o horário do cafezinho a cinco minutos, usar uniformes, entre outras barbaridades. “Minhas idéias parecem conservadoras, mas não são. Eu me sinto livre para combinar o novo e o velho”, diz Judith, que jura levar uma vida privada bem mais interessante desde que voltou aos anos 50.

Isolando o radicalismo de suas idéias, sobra uma bem-construída crítica à flexibilização das relações de trabalho nas últimas décadas. Para ela, a aura de liberdade e prazer existente em algumas empresas esconde, na verdade, uma cruel forma de dominação da vida do empregado. A tecnologia eliminou barreiras físicas e temporais e, atualmente, mantém os funcionários atados às empresas 24 horas por dia, via telefone celular, correio eletrônico e computador portátil com acesso à internet em virtualmente qualquer lugar do mundo. “Ao mesmo tempo que sugerem a seus executivos que tenham qualidade de vida, as empresas invadem suas vidas com toda forma de tecnologia de acesso”, diz o professor de psicologia Pedro Fernando Bendassolli, autor de um alentado artigo sobre a alemã numa publicação especializada da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. “A verdade é que não adianta recorrer aos manuais de auto-ajuda ou às soluções da própria Judith para resolver essa situação. Temos que encarar o fato de que vivemos tempos de grandes ambiguidades e aprender a lidar com elas”, afirma o acadêmico.

Judith é uma sobrevivente da era da Nova Economia. E pode ser encarada como a mais bem acabada resposta a esse momento de excessos, marcado por padrões ultraflexíveis de comportamento. As empresas de internet, fugazes donas do mundo, estimulavam seus funcionários a instalar reluzentes bichos infláveis em cima de seus computadores e promoviam festas inesquecíveis praticamente todos os meses. A bolha estourou, a Velha Economia voltou a ser conhecida simplesmente por “economia” e as empresas de internet sumiram do mapa (com grandes e honrosas exceções, é claro).

“As chamadas pontocom prometiam um novo estilo de gestão que romperia as velhas amarras da administração tradicional. Claro que nada disso ajuda a enfrentar os reais problemas da vida profissional, da qual muita gente gostaria de fugir”, diz o professor Bendassolli. Judith defende suas idéias e jura que não enfrenta restrições cotidianas ao seu

modus operandi

, especialmente chocante em se tratando de uma agência de publicidade. “Há uma diferença entre o conteúdo e a estrutura de organização da agência. Não há conflito”, diz. Hoje, ela possui apenas quatro funcionários, mas está de mudança de Colônia para Berlim e pretende ampliar o quadro de colaboradores. Será um desafio arrumar gente que se submeta ao seu ideário? “Que nada, posso te garantir que muita gente quer trabalhar comigo.”