Não somente o índice pluviométrico que pôs as cidades do Sudeste (São Paulo e Minas) e do Nordeste (Piauí, Pernambuco, Ceará e Bahia, principalmente) em baixo d’água causa perplexidade. Os números da tragédia são assustadores: 98 mortos, 120 feridos, mais de 120 mil desabrigados em 405 cidades, 14 grandes barragens e 4.500 casas totalmente destruídas, além de 28 mil danificadas. As chuvas já atingiram 15 Estados e os estragos são de tal ordem de grandeza que estão tirando o sono dos governos. A população reclama, quer atenção imediata das autoridades. O presidente Lula também reclamou da demora dos seus principais ministros em agir para socorrer os desabrigados e os Estados que sucumbiram à tromba d’água. Só para consertar estradas, avalia o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, o governo gastará R$ 40 milhões. Ciro Gomes, ministro da Integração Nacional, afirmou que não houve alagamento pior no País desde 1910. De fato, em algumas áreas, o volume de chuvas em janeiro já é maior que a média anual do mês. E ao que tudo indica não haverá alento. A meteorologia adverte: vai cair muita água no Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará.

Na tentativa de abrandar o sofrimento de quem perdeu tudo, o presidente Lula visitou Petrolina (PE), Juazeiro (BA) e Teresina (PI), na quarta-feira 4. Ao lado de seis ministros, conversou com conterrâneos nordestinos que pediram colchões, comida, remédios e empregos. No Piauí, viu o caos, que perdura há três semanas: 121 municípios foram duramente atingidos. A capital, Teresina, já contabiliza um prejuízo superior a R$ 60 milhões. Como se não bastasse, o possível rompimento de um dique pode deixar 220 mil pessoas ao relento. O governador Wellington Dias (PT), que foi a Brasília em busca de socorro financeiro, levou “numa boa” as gafes cometidas por Lula: “Ficou com medo de morrer afogado?”, perguntou o presidente ao governador petista.

A União vai liberar R$ 32 milhões, mas o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), reclamou: “Só aqui o prejuízo já é de quase R$ 40 milhões.” Em São Paulo, uma das cidades fortemente atingidas, a prefeita Marta Suplicy (PT) vai isentar as áreas alagadas de IPTU. Marta também visitou as regiões afetadas. Na quarta-feira 4, apesar das câmeras de tevê, decidiu responder tête-à-tête às críticas de uma moradora da região do córrego Pirajussara. No dia seguinte, um outro obstáculo: moradores da zona leste atiraram lama em sua direção.

Mas o discurso de Lula aos desabrigados no Nordeste resume a realidade das regiões castigadas: “O pobre sempre vai ser escorraçado para áreas que alagam, morro que escorrega ou beira de córrego que, quando enche, deixa casas alagadas. Vocês são vítimas do descaso que, historicamente, o poder público tem com o povo pobre.” A tragédia foi anunciada.