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LUZ
A obra "Nós", de Carmela Gross, é uma da
poucas tridimensionais no Gabinete do Desenho

No número 1.024 da rua da Consolação, em São Paulo, avista-se um distinto casarão do século XIX, que nos últimos quatro anos esteve escondido por tapumes devido a um processo de restauração. A Chácara Lane foi inaugurada no dia 1º de dezembro e tornou-se um dos novos destinos culturais ao sediar o novo Gabinete do Desenho da cidade de São Paulo. Exemplar remanescente das típicas residências paulistanas do começo do século passado – como a Chácara do Penteado, atual Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, e a Chácara Prates, nos Campos Elísios –, o edifício foi construído entre 1890 e 1906, quando se tornou residência do médico presbiteriano Lauriston Job Lane, que ali viveu até 1942 e dá nome ao local.

O casarão, que no passado já foi ambulatório da Cruz Vermelha e sede do Arquivo Municipal, recebe hoje uma das mais importantes coleções públicas de arte do País: a Coleção de Arte da Cidade, iniciada em 1945, constituída majoritariamente de obras em papel. Com curadoria do crítico Agnaldo Farias, o Gabinete do Desenho surge com duas exposições inaugurais, entre elas a mostra “Da Seção de Arte ao Prêmio Aquisição: a Gênese do Gabinete do Desenho”, que é de longa duração e traz um recorte dessa coleção – a primeira coleção de arte pública do Brasil – que conta com cerca de 3,5 mil obras e foi iniciada pelo falecido poeta e pintor Sérgio Milliet, um dos principais articuladores do modernismo no Brasil.

Durante mais de 60 anos, o projeto adquiriu obras como desenhos, aquarelas e gravuras em técnicas variadas, de artistas nacionais e estrangeiros. Na mostra, encontramos desenhos originais de Tarsila do Amaral para o livro Pau Brasil, de Oswald de Andrade, desenhos de Anita Malfatti e Oswaldo Goeldi, gravuras do espanhol Joan Miró e registros do naturalista alemão Rugendas, que viajou pelo Brasil durante o século XIX. Parte dos trabalhos está disponibilizada ao público por meio de mapotecas, projetadas pelo designer Carlos Motta, que também assina todo o mobiliário desse novo museu.

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ClASSICO
"Estudo para A Negra" é um dos desenhos de Tarsila do Amaral na mostra

Apesar de apresentar uma coleção de enfoque modernista, a Chácara Lane surge com o objetivo de realizar uma articulação entre o passado do desenho e vertentes contemporâneas da arte em papel. Na mostra, é possível ver ao lado desses grandes nomes do moderno obras em arte postal de Paulo Bruscky, Anna Bella Geiger, Jac Leirner e Regina Silveira. Além do recorte da Coleção de Arte da Cidade, há uma segunda mostra em que a curadoria, também assinada por Farias, destaca a importância do desenho no processo de criação artística.

A mostra “Desenho esquema esboço bosquejo projeto debuxo ou o desenho como forma de pensamento”, diferentemente da primeira, focada no modernismo e na arte da década de 1960-1970, traz obras pertencentes a outras instituições, galerias e coleções. Nessa sessão é possível ver, por exemplo, os esboços de peças criadas pelos irmãos Campana, os projetos de cenários desenhados para o programa infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”, assinados por Vera Hamburger, mas também as criações em desenho de artistas como Edith Derdyk e Daniel Senise, principais representantes contemporâneos a eleger o desenho como forma primordial de arte.

Fotos: Edouard Fraipont