Rinite, sinusite, asma. Quem tem já sabe. Com a chegada do inverno, a ocorrência dessas e de outras doenças alérgicas se torna muito mais frequente. O ar seco típico deste período prejudica a ação do sistema de defesa do organismo contra partículas ou substâncias que podem detonar as crises (alérgenos). Além disso, as condições climáticas dificultam a dispersão de poluentes, um dos principais gatilhos desses males. Até pouco tempo, as alternativas de tratamento limitavam-se aos antialérgicos tradicionais – que provocam muito sono – e às conhecidas vacinas contra alérgenos. A partir deste ano, porém, o panorama promete melhorar. Já está nas farmácias o Desalex, remédio produzido pela Schering-Plough e indicado contra rinite e urticária. De acordo com o fabricante, ele é mais potente e age em menos tempo do que os outros remédios disponíveis.

E esperam-se outras boas novidades para breve. Uma delas é a chegada dos chamados bloqueadores de interleucina-4, indicados contra qualquer tipo de alergia. A interleucina-4 é um composto importante para o início do processo alérgico. É ela que induz a produção do IgE – anticorpo responsável pela maior parte das alergias. Ele se liga a substâncias que seriam inócuas, como um ingrediente alimentar, desencadeando o processo alérgico. Ao impedir a ação da interleucina-4, portanto, a nova geração de drogas conseguirá interromper o começo da reação de alergia. Outro produto, em fase final de teste, promete atacar o próprio anticorpo IgE, evitando sua ação.

Esses remédios só foram possíveis graças aos avanços obtidos em relação ao conhecimento do mecanismo da alergia. Há poucos anos, apenas o papel da histamina – outra substância fundamental para que a reação se desenvolva – havia sido decifrado. Agora, sabe-se mais, especialmente sobre os compostos que atuam logo no começo da manifestação. “Os antialérgicos convencionais atuam sobre a histamina, mas funcionam trancando a porta depois que o ladrão entrou”, compara o médico Luiz Vicente Rizzo, da Universidade de São Paulo. As drogas que estão por vir atuarão antes que o estrago já esteja feito.

Enquanto essas novidades não chegam, os especialistas recomendam cuidados básicos contra a alergia, principalmente dentro de casa. O colchão e o travesseiro precisam ser forrados com napa (tecido sintético que se assemelha ao plástico). Tudo para evitar contato com a poeira e com os ácaros, aracnídeos microscópicos responsáveis por grande número de alergias. “Forrar a cama é o princípio de tudo. No meu consultório, se o paciente não quiser forrar, eu nem continuo o tratamento”, dispara Gilberto Pradez, 60 anos, diretor da clínica Pró Alérgico, do Rio de Janeiro.

A professora carioca Michele de Carvalho fez um severo controle ambiental em sua casa para se livrar do problema. “Tinha alergia a tudo”, conta. Por causa das crises, Michele só entrava em sala de aula com um nebulizador. Decidida a acabar com o sofrimento, ela iniciou um tratamento a base de vacinas e mudou tudo em sua residência. “Troquei as cortinas, forrei colchão e travesseiros e só uso produtos de limpeza sem cheiro. É preciso ter disciplina, mas os resultados compensam o esforço”, diz. Hoje, recuperada, Michele voltou a trabalhar e a ter uma vida normal.