Apaixonado pela natureza, o fotógrafo parisiense Yann Arthurs-Bertrand descobriu instigantes ângulos a bordo de um balão, sobre as savanas do Quênia, na África, quando registrava imagens de leões, há mais de duas décadas. De lá para cá, ele se especializou em captar das alturas as marcas esculpidas no planeta pelo tempo ou pelas mãos do homem, elemento que costuma surgir em suas fotografias como mais um acidente da natureza. Embora suave, o olhar do fotógrafo é sempre do alto para baixo. Para montar a coleção A terra vista do céu, ele voou duas mil horas de helicóptero, por 85 países. De um total de 100 mil fotografias, escolheu as 75 que compõem o livro For press freedom (Pela liberdade de imprensa, Repórteres Sem Fronteiras, 128 págs., US$ 8, disponível no site www.rsf.org).

Aos 56 anos, Arthurs-Bertrand percorre trajetória similar a de outros ícones da fotografia, como Henri Cartier-Bresson e Robert Doisneau, que também tiveram obras suas publicadas em prol da organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras. Fundada pelo argelino Robert Ménard em 1985, a ong tem sede em Paris e defende a liberdade de informação no mundo. Trata-se de uma missão complicada. Apenas no ano passado, 31 jornalistas

morreram no exercício da profissão. Este ano a contabilidade já alcança oito vítimas, entre elas o americano Daniel Pearl, degolado por extremistas muçulmanos no Paquistão, e o brasileiro Tim Lopes, executado por narcotraficantes no Rio de Janeiro. Com papel fundamental nos embates pela liberdade de expressão, Repórteres Sem Fronteiras tem entre suas fontes de renda a venda de livros de fotografias.

Na obra a ser lançada em breve no Brasil, Arthurs-Bertrand convida a uma volta ao mundo, durante a qual a violência é diluída pela distância. Em outra foto, bombardeiros B-52, símbolo do poderio militar americano, se alinham em uma espécie de cemitério tecnológico, no deserto do Arizona. Do Brasil, Arthurs-Bertrand mostrou contrastes gritantes. O primeiro é um detalhe de um prédio do centro paulistano, apinhado de roupas nas janelas. Na outra imagem, toras e mais toras de madeiras são transportadas, boiando, pelo rio Amazonas. “O Brasil é o quinto produtor mundial de madeira industrial e o primeiro de madeira tropical, mas esse aporte econômico se faz à custa de uma inquietante devastação da floresta amazônica”, esclarece a legenda. A fotografia, de inquestionável beleza plástica, reflete, na verdade, desacertos da humanidade.