Filho de porteiro e empregada doméstica, o carioca Sergio Luiz Cezar, 45 anos, teve uma infância difícil como qualquer criança pobre. Já foi entregador de marmitas, jogador de futebol, segurança, modelo, fotógrafo e músico, até descobrir a vocação para as artes plásticas. Começou trabalhando com pedra-sabão, antes de esculpir bronze e madeira. Mas os materiais tradicionais, definitivamente, não se encaixavam na sua criatividade. Curiosamente, foi no lixo que ele encontrou a farta matéria-prima para projetá-lo no circuito artístico, como prova a exposição Arquitetura do papelão, que Cezar inaugura na quinta-feira 4 no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

A mostra inédita apresenta 20 miniaturas minuciosamente detalhadas de casas, livrarias, bares e cortiços, tudo feito de papelão e plástico, encontrados no lixo, além de outros materiais nada parecidos com o que o museu costuma exibir. Um dos destaques chama-se Barraco do Goya, divertida homenagem ao grande mestre espanhol Francisco de Goya, que, ironicamente, está dividindo espaço com Cezar no mesmo Mnba. A peça, obviamente, mostra um barraco decorado com telas do pintor. “É uma honra estar no mesmo lugar que este monstro da arte”, exulta Cezar, cujas miniaturas, todas iluminadas, reproduzem o som dos cortiços, das barbearias e das padarias.

O artesão, dono de obras valendo entre R$ 250 a R$ 2 mil, conta que encontrou o filão do lixo quando, na busca por outros tipos de material, reviveu cenas da infância pobre, época em que montava seus próprios brinquedos com sucata encontrada na rua. “Eu não tinha dinheiro para comprar brinquedos caros, tinha de fazer os meus.” Papelão, plástico, lata, palito, pilha, vidro, tudo agora se transforma em arte nas mãos de Cezar. Saída criativa que inspirou o arquiteto Paulo Casé a lhe dar o apelido de Arquiteto do Papelão.

Uma outra característica do trabalho de Cezar é a preocupação com o meio ambiente e a paixão pelo Rio de Janeiro. “Acho lamentável o que estão fazendo com a Cidade Maravilhosa. O lixo é jogado em qualquer lugar e os casarios antigos não são preservados”, lamenta. Fascinado por favelas e construções centenárias, elas são suas principais fontes de inspiração. “Eu imprimo o desgaste do tempo para dar um toque humano e real às casinhas que servem de alerta para a importância da preservação.” Com peças já vistas em mais de 12 países, no momento o artista acalanta um sonho bem pragmático: criar o museu do papelão, onde crianças aprenderiam a trabalhar com lixo e teriam aulas de cidadania, cultura e história arquitetônica do Rio.