O mais recente capítulo da queda-de-braço entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o governo americano tem como protagonista o Brasil, que está tendo problemas para fornecer ao país vizinho aviões militares fabricados pela Embraer. “Os Estados Unidos não autorizam a Embraer a fazer aviões para a Venezuela, porque a empresa utiliza tecnologia americana”, disse Chávez numa cerimônia militar em Caracas. “Vamos esperar para ver se o Brasil pode solucionar o problema. Caso contrário, a Venezuela procurará outros fornecedores, como a China, que também fabrica aviões de treinamento, caças e bombardeiros”, sentenciou o presidente venezuelano. Ele também reclama da restrição dos EUA à modernização dos F-16 e ameaça comprar MiGs ou Sukhois russos para substituí-los.

“Somos contrários a esse tipo de restrições à transferência de tecnologia, sobretudo quando não há nenhum tipo de sanção internacional, como no caso da Venezuela. Acabamos de vender aviões semelhantes à Colômbia. Não são aviões ofensivos que possam ameaçar a maior potência do mundo”, alfinetou o chanceler Celso Amorim. O acordo para a aquisição de 36 aviões (24 Super Tucano e 12 caças de treinamento AMX) pela Venezuela foi feito em fevereiro passado. O negócio era estimado em US$ 500 milhões. O Super Tucano usa a turbina Pratt & Whitney, fabricada no Canadá sob licença americana, e aviônica da israelense Elbit.

Esse veto americano traz novamente à baila a discussão pela qual o Brasil passou durante 2001 e 2004 sobre a escolha de 12 novos caças para substituir os velhos Mirage III da base de Anápolis (GO), parte do projeto chamado FX pela Força Aérea Brasileira (FAB). Na época, os americanos ofereciam o caça F-16, mas sem os mísseis inteligentes ar-ar, o que tornava a oferta militarmente inócua. Outro concorrente, o anglo-sueco Gripen, tinha 30% de suas peças vitais com tecnologia americana.

As pressões de Tio Sam – que ocorrem sempre que interessa aos americanos criar dificuldades a países com que têm conflitos ou divergências – têm levado os compradores de material estratégico a considerar cuidadosamente suas fontes de fornecimento e tecnologia. No caso de Chávez, houve recentemente outra investida americana quando Washington tentou impedir a Espanha de vender à Venezuela 12 aviões de transporte militar C-295, quatro corvetas e quatro lanchas de patrulha costeira, um negócio de quase US$ 2 bilhões. Os americanos só voltaram atrás porque o premiê espanhol José Luís Rodríguez Zapatero tinha um trunfo na mão: eles precisavam da Espanha para fabricar futuramente submarinos convencionais para fornecimento a Formosa, já que desde os anos 60 os EUA não mais dispõem de tecnologia para fabricar submarinos que não sejam de propulsão nuclear. Semelhante trunfo, até agora, o Brasil não tem.