Concorrente ao Oscar de melhor  canção original com a música Al otro lado del río, ouvida no filme Diários de motocicleta, de Walter Salles, o cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler foi surpreendido, na terça-feira 22, com um anúncio bastante deselegante. Sem ao menos ter sido consultado pela produção do maior prêmio do cinema, a ser entregue no domingo 27, Drexler ficou sabendo que não era ele, mas o ator espanhol Antonio Banderas, acompanhado do guitarrista mexicano Carlos Santana, quem iria defender a sua música no palco do Kodak Theatre. De Los Angeles, onde se encontra como convidado da festa, Drexler demonstrou seu desagrado. “São os produtores do programa que têm uma visão pequena do que é um artista latino, tratando-nos como um grupo homogêneo de peças intercambiáveis, cujo único critério válido é o índice de audiência”, declarou o cantor, que se apresenta no dia 8 de março no FM Hall, no Rio de Janeiro, no relançamento do CD Eco. Al otro lado del río foi incluída como faixa-bônus.

Escrito especialmente para o filme, o belo zamba – ritmo típico latino-americano – foi composto para a voz de Mercedes Sosa, que não pôde interpretá-lo. Mas o primeiro nome cogitado pelos produtores do Oscar foi o de Jennifer Lopez. Segundo Walter Salles, que não comparecerá à entrega – preferiu estar presente na festa do Oscar francês, o César, no sábado 26, pelo qual concorre a melhor filme estrangeiro –, Antonio Banderas agiu de forma ética e correta com Drexler e com seu filme. “Esse problema não foi criado pela Academia, que indicou pela primeira vez uma canção com letra em espanhol para concorrer ao Oscar, e sim pelo produtor do show de tevê, que vai transmitir a entrega.” Além da categoria canção original, Diários de motocicleta concorre por roteiro adaptado, assinado pelo porto-riquenho José Rivera, que vai pisar o tapete vermelho. A canção de Drexler disputa com os temas de Shrek 2, O fantasma da ópera, Expresso polar e A voz do coração. “O fato de que um filme com a temática de Diários tenha sido indicado em um ano tão conservador quanto esse nos Estados Unidos já é, em si, um prêmio”, afirma Salles.