O programa brasileiro de combate à Aids, caracterizado, entre outras coisas, pela distribuição gratuita de medicamentos, recebeu reconhecimento internacional pela sua eficácia. Agora, é a vez de organizações não-governamentais (ONGs) do Brasil ganharem valor além das fronteiras nacionais. É o caso do Centro Corsini, de Campinas, no interior de São Paulo. Envolvida na luta contra a doença há 15 anos, a entidade foi escolhida para colocar em prática seus conhecimentos em Moçambique, na África, país que ocupa a quinta posição no ranking dos mais atingidos pela doença no mundo. O Corsini foi selecionado pela Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), ONG coordenada por Graça Maschel, esposa do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. “Será mais um desafio”, diz Sílvia Bellucci, infectologista e fundadora do Corsini.

A entidade já entrou em ação no solo africano. Um dos primeiros trabalhos é a implantação do tele-Aids, serviço criado para tirar dúvidas. Para os próximos dois anos, estão previstas outras iniciativas. Entre elas está a criação de um centro de apoio psicológico às famílias afetadas pela doença. A instituição também criará programas de geração de renda para garantir a sobrevivência dos doentes. O Corsini terá uma tarefa árdua pela frente. Porém, não lhe falta experiência. Em Campinas, o centro atende 700 pacientes por mês, oferecendo gratuitamente testes de Aids e acompanhamento que inclui, por exemplo, nutricionistas e ginecologistas. O Corsini também abriga crianças órfãs infectadas. Lá, elas encontram moradia, cuidados e carinho.

Basta ver o sorriso da garotada para saber que o programa da entidade tem resultado. A mesma alegria é compartilhada pelos adultos soropositivos que participam das oficinas de marcenaria, pintura, mosaico e velas. As peças são vendidas em exposições. Foi por meio da arte que o ex-garçom Adriano Carreira Silva*, 23 anos, contaminado em 1990, encontrou esperanças para seguir adiante. “ Com o trabalho de criar velas, ocupo minha mente e fico feliz ao perceber que dá para continuar a viver com dignidade” diz Silva.

Antes do Corsini, outra ONG brasileira já atuava além do território nacional. Desde 1994, o Grupo de Incentivo à Vida (GIV), entidade paulistana de luta contra a Aids, oferece assistência a latinos que moram no Japão. A idéia do trabalho surgiu quando José Araújo Lima Filho, integrante do Giv e ex-presidente da entidade, foi convidado para ministrar palestras de prevenção no Oriente. “A comunidade latina tinha dificuldades de acesso às informações porque não falava japonês”, lembra Lima Filho. “Percebi que era preciso fazer um trabalho mais abrangente”, conta. O GIV, então, ajudou a criar o centro Criativos, com sede em Tóquio, que atende a população latina da cidade.

A instituição oferece gratuitamente os testes anti-Aids e conta com tradutores em espanhol e português para auxiliar os latinos na conversa com o médico. O GIV também treinou os especialistas japoneses para que eles atendessem melhor os brasileiros. “Faz parte da tradição oriental o médico ser objetivo na consulta. Mas os latinos gostam de questionar mais sobre seus problemas”, conta Lima. Foi necessário ensinar que é importante conversar mais com os latinos. Em breve, a entidade, com o apoio do Ministério da Saúde do Brasil, promoverá uma campanha de prevenção na tevê e em outdoors que inclui a distribuição de um guia à comunidade latina.