Horas antes de aceitar ser candidato ao governo de Goiás pela primeira vez em 1998, o então deputado federal pelo PSDB Marconi Perillo reuniu o grupo de dez amigos que o acompanhava na vida política havia alguns anos. Queria saber a opinião deles sobre a possibilidade de trocar a reeleição certa para a Câmara dos Deputados pela aventura da disputa do governo do Estado. O grupo foi unânime: Marconi, como é chamado em Goiás, não deveria fazer a troca. Ele ouviu atentamente e respondeu: “Está certo, mas eu estou indo agora para uma reunião com a cúpula do partido e a minha tendência é aceitar.” As pesquisas lhe davam apenas 4% das intenções de votos e a disputa era contra os políticos que havia décadas controlavam Goiás. Marconi aceitou o desafio e, surpresa geral, venceu a eleição contra o até então maior cacique da política do Estado, o senador Iris Rezende (PMDB). Essa história, contada por um dos amigos e correligionários do governador, é usada para ilustrar as características que eles julgam muito importantes no político: confiança na própria intuição e disposição para brigar pelo que quer. Dito isso, o mesmo amigo revela o novo objetivo do tucano: conquistar a indicação do partido para a disputa da Presidência da República, se possível já em 2006. “Para ser presidente é preciso muito preparo e densidade política. O meu sonho é fazer um bom segundo mandato”, desconversa Perillo. O máximo que ele admite é que pretende se “inserir” na política nacional. Mas os aliados não só não negam que ele queira tão pouco como estimulam a aspiração.

Marconi Perillo não é tucano de primeira hora. Entrou no PSDB em 1995, acompanhando o padrinho e ex-governador Henrique Santillo, que o lançou no mundo político. Santillo vinha do PMDB, passando pelo PP de Tancredo Neves. O governador reeleito de Goiás é hoje um dos integrantes do partido com cacife para tentar vôos mais altos. Ao contrário de alguns companheiros tucanos, Marconi elegeu-se no primeiro turno sem descolar-se do candidato do governo à Presidência da República, José Serra. O governador percorreu o Estado ao lado de Serra. A determinação do tucano rendeu frutos. Em Goiás, o candidato teve votação acima da média do País no primeiro turno. Hoje, os dirigentes do PSDB cobram essa mesma lealdade dos outros governadores do partido. O apoio aos correligionários é outra característica que os integrantes da equipe de Marconi gostam de ressaltar. “Ele sofreu enormes pressões para me fazer suspender multas aplicadas a grandes empresários do Estado. Mas segurou todas e nunca sequer comentou comigo”, conta o presidente da Agência Ambiental de Goiás, Paulo Souza, que multou, inclusive, o próprio governo por descumprir leis ambientais. A visão gerencial de Perillo é outro ponto ressaltado por Souza.

Ao assumir o primeiro mandato, Perillo distribuiu um decálogo intitulado “Princípios de governo” e um “Plano estratégico”. Deu à administração pública ar de empresa privada com o foco centrado nos resultados. Investiu pesadamente em obras de infra-estrutura, construindo aeroportos pelo interior para escoar a produção de Goiás. O pólo farmacêutico inaugurado no Estado durante sua gestão foi outra empreitada que marcou a gestão do governador, incrementando a economia de Goiás. O turismo também foi fonte de divisas. Perillo incentivou o setor que trabalha em duas pontas: o ecoturismo e o turismo esotérico, devido a localidades ainda desconhecidas da maioria dos aventureiros. O governador tem metas e não abre mão delas. Cobra dos integrantes da equipe o alcance dos objetivos estipulados. Instituiu o planejamento setorial e as parcerias com os municípios na execução dos projetos. Investiu pesadamente no desenvolvimento de várias regiões do Estado, planejando aeroportos para escoar os principais produtos. Além disso, outro importante ponto econômico da primeira gestão foi a criação de um pólo farmacêutico, hoje um dos mais significativos do País. Até os adversários reconhecem que a administração de Perillo segue cartilhas progressistas. Ele adotou programas criados pelo PT, como a bolsa-escola e o renda mínima, que chamou de renda cidadã. Mas, ao mesmo tempo que o jovem governador – tem 39 anos – recebe elogios por fazer uma administração moderna, é acusado de utilizar-se de métodos antigos de fazer política. Segundo opositores, Marconi tenta cooptar aliados nos municípios que estão nas mãos de adversários.

De olho numa aliança com o PMDB, ele dá um exemplo do estilo agregador de fazer política com sua postura nas eleições para o governo do Distrito Federal. Perillo subiu no palanque do candidato Joaquim Roriz, que tem como vice a tucana Maria de Lourdes Abadia. O governador goiano lembra também o dever de lealdade para com Roriz, que tenta a reeleição. No primeiro turno, o peemedebista subiu no palanque de Perillo nas cidades goianas do chamado Entorno do Distrito Federal, e não no do senador Maguito Vilela, candidato do PMDB. A costura política de Perillo para chegar ao Palácio do Planalto em 2006, além de passar pela administração do Estado de Goiás, terá de contar com o fortalecimento do PSDB. Otimista com a eleição de Serra, o governador acredita que também não terá problemas com uma eventual vitória de Lula. Nesse caso, iria para a oposição, mas não inviabilizaria um diálogo civilizado com o petista.