Ferramenta eletrônica utilizada com parcimônia na eleição presidencial de 1998, a internet está revelando sua força nesta campanha para o Palácio do Planalto. Embora sozinha não decida nenhuma eleição, ela é um poderoso meio de difusão de idéias e de produtos. Esse poder tem duas faces distintas. A positiva é que os candidatos à Presidência podem apresentar muito mais do que a própria biografia e o programa de governo, estabelecendo um diálogo virtual com seu eleitor. A face obscura é que a grande rede passou a ser usada como instrumento para divulgar falsas informações, denegrir reputações e esvaziar candidaturas.

Em suas páginas oficiais, além de notícias atualizadas, os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) oferecem farto material de propaganda, a começar pelos cartões eletrônicos, como são chamadas as mensagens gráficas enviadas pela rede. Na campanha virtual há também jingles e papéis de parede, as imagens usadas para decorar a tela dos computadores. O acesso ao material convencional de campanha também está mais fácil. Ao contrário do que ocorria no passado recente, os adeptos de cada coligação podem reproduzir, com qualidade, as fotografias e os panfletos de seus candidatos. Basta clicar a opção correta na tela do computador.

Nesse dinâmico universo digital, a maior novidade veio do PT, que, no começo de agosto, colocou uma loja virtual na página de Lula. Um embrião do projeto já aparecera em 1998, com a apresentação de um rol de produtos na internet. Naquela ocasião, após escolher o material, o interessado telefonava para a sede do partido para fazer a encomenda e combinar a forma de pagamento. Desta vez, com a ajuda da Mirácula, uma das maiores empresas brasileiras de comércio eletrônico, o PT colocou 105 objetos à venda. Até quarta-feira 16, a lojinha virtual já havia vendido o equivalente a R$ 1,2 milhão, sendo “visitada” por mais de 100 mil pessoas por mês.

Para estar em sintonia com a lei eleitoral, a lojinha registra todos os dados do comprador. Fora isso, vigoram as regras habituais do comércio eletrônico. Depois de colocar os itens escolhidos no carrinho virtual, o usuário paga com boleto bancário ou cartão de crédito e, três ou quatro dias depois, recebe suas compras pelos correios. Os campeões de venda são os bonés e camisetas, mas as peças de maior sucesso estão agrupadas na “grife PT” e incluem broche de estrela banhada a ouro, caneta e relógio com a marca do partido. Em breve um desfile com as peças da lojinha, já gravado pelo marqueteiro Duda Mendonça, aparecerá no programa eleitoral. “Nossa intenção era facilitar a distribuição de material de campanha, mas o retorno foi surpreendente”, comenta o coordenador de comunicação Ozéas Duarte. “Se tivéssemos uma grande linha de produção, poderíamos financiar boa parte da campanha.”

Ao mesmo tempo que comemora o sucesso de uma iniciativa inédita, o PT reclama da rede de intrigas e falsos documentos que se espalham pela internet. Numa tentativa de dar um basta a esse tipo de ação, o partido começa a rastrear as mensagens. Já identificou e decidiu processar duas fontes de divulgação. A primeira, um oficial da Polícia Militar de São Paulo que usava o endereço eletrônico da corporação. A outra, um delegado da Polícia Civil do Mato Grosso do Sul, Paulo Magalhães de Araújo, que distribuiu uma carta falsamente assinada por Lula, repleta de erros de informação e de ortografia. “Era um deboche. Recebi e passei para a frente. Apenas um dos meus grupos de discussão tem 782 policiais do Brasil inteiro”, afirmou o delegado. Ocorre, porém, que a divulgação de inverdades ou ofensas à honra de terceiros é crime. “Não é só o autor do documento quem responde pelo crime, mas ainda quem o divulga”, afirma o advogado Luiz Flávio Gomes, presidente do Centro de Estudos Criminais. Imprescindível em nossos tempos, a informática também pode complicar a vida do ser humano. Depende de como é usada.