Os bancos estão de olho nas crianças – mesmo as recém-nascidas. Depois da explosão da previdência privada para adultos, as instituições financeiras elegeram a garotada como o novo filão para aumentar as vendas de planos da chamada previdência infantil. Só na última semana, o banco Santander e a seguradora Porto Seguro anunciaram seus planos. O Citibank também está com um produto pronto, o CitiPrevidência, que deverá incluir opções para crianças e adolescentes. O argumento de sedução é imbatível: garantir o futuro dos filhos.Faculdade, consultório ou escritório, carro novo ou casa própria, aposentadoria? Sem problemas. Hoje, já é possível comprar em qualquer agência bancária um plano sob medida para dar uma ajuda financeira aos filhos no início da vida adulta. Como é um investimento de longo prazo, a mensalidade varia de acordo com o tamanho do bolso dos pais. Pode começar em R$ 30 ou R$ 50 mensais e ir aumentando ao longo dos anos.

Essas facilidades, mais o marketing pesado dos bancos nesse “novo” produto, acabaram conquistando pais e mães preocupados com um futuro melhor para os herdeiros. Tanto que só neste mês de outubro, o “mês das crianças”, junto com videogames, as vendas de planos de previdência infantil bateram todos os recordes. De uma maneira geral, o crescimento atingiu os 40% em relação a setembro. A participação dos planos infantis na carteira de previdência dos bancos varia de 5% a 10%, mas a expectativa é de que chegue a mais de 30% nos próximos anos. “Historicamente há um aumento de vendas de 30%, mas este ano foi bem melhor”, diz Jorge Nasser, diretor de marketing do Bradesco Previdência, líder no segmento de previdência privada. “A estabilidade da moeda permitiu um planejamento melhor do futuro tanto dos pais quanto dos filhos”, diz a educadora financeira Cássia D’Aquino. Segundo ela, a tendência que começa a ganhar força no Brasil é uma prática comum há muito tempo na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. “Lá os pais iniciam uma poupança durante a gestação dos filhos.”

É o que está começando a acontecer timidamente no Brasil. Pais que despertaram tardiamente para a necessidade de uma previdência privada estão economizando dinheiro para garantir a previdência dos filhos. “As pessoas sabem da importância de começar a planejar o futuro dos filhos desde cedo”, afirma Carlos Calhado, diretor de previdência da Porto Seguro, que acaba de lançar a versão Plano Gerador de Benefício Livre, conhecido como PGBL, do seu plano infantil. “É perfeitamente possível fazer isso com uma pequena economia mensal”, afirma João Batista Angelo, gerente da área de previdência da Caixa Econômica Federal. Com o PGBL, a correção do dinheiro acumulado é feita de acordo com o grau de risco que o dono do plano quer correr. Os bancos colocam o dinheiro em fundos de investimentos e o rendimento é de acordo com a variação dos títulos escolhidos. Por exemplo: se o fundo for composto na sua maioria por títulos cambiais, o rendimento acompanha a variação do dólar.

Se for em títulos de renda fixa, acompanha a variação dos juros.Outra vantagem é que, a exemplo dos produtos para adultos, eles não sofrem incidência de Imposto de Renda na fase de acumulação e permitem deduzir as mensalidades na declaração até o limite de 12%da renda bruta anual. Os bancos também oferecem um seguro de vida para os pais. No caso de falecimento, o filho recebe um pecúlio que
varia de R$ 10 mil a R$ 50 mil.

A possibilidade de abater as prestações no IR pesou bastante na hora de o engenheiro eletrotécnico Francisco Gomes decidir-se por dois planos para os filhos, Marina, 12 anos, e Arthur, 14, há dois anos. Ele contribui mensalmente com pouco mais de R$ 400 e tem como objetivo garantir, se for preciso, o pagamento dos estudos dos dois na universidade. “O benefício do IR é palpável. Já as crianças terão algum dinheiro para começar.” Ou para terminar.