Pode faltar dinheiro e emprego, mas o consumidor brasileiro – 97% deles – não deixa o armário sem um pacote de biscoito. Essa fidelidade, porém, parece ser um privilégio dos biscoitos, todos eles, dos que são feitos à base de água e sal aos mais sofisticados. Um estudo em seis mil domicílios em todas as regiões do País, realizado pela LatinPanel, empresa dos grupos Ibope, NPD e Taylor, mostra que os últimos dez anos provocaram grandes mudanças nos hábitos de compra do brasileiro. Eles não fazem mais estoques, como faziam em 1992, quando a taxa de inflação fechava o ano em 1.174%. Hoje, a compra mensal representa um pouco menos de 50% do total, enquanto a semanal atinge 26% e a quinzenal, perto de 20%. Os consumidores estão mais críticos e infiéis às marcas líderes. Com a variedade da oferta, aprenderam a experimentar – quando gostam da alternativa, trocam. Por esse motivo, 75% das marcas líderes perderam a exclusividade (no setor de alimentos esse porcentual chega a 94%). Vale para todas as classes sociais a tendência do “mix” de marcas para um mesmo tipo de produto. Por exemplo, sabão em pó “de primeira” para lavar roupas e sabão barato para outras tarefas.

O estudo, realizado com base na avaliação semestral da LatinPanel, pesquisou os hábitos de compra em 28 categorias de produtos nos setores de alimentos, produtos de limpeza e de higiene e beleza. “O pesquisador não interfere de maneira nenhuma no ato de compra do lar”, diz Ana Cláudia Fioratti, diretora comercial. Empurrado por mecanismos de crédito e pela estabilidade da renda média nos últimos seis anos, o consumidor pode fazer algum tipo de planejamento familiar e assumir dívidas para realizar alguns de seus desejos. “Houve um avanço nas classes C e D não só na posse, como na intenção de compras”, diz Ana Claudia.

A busca por praticidade que aumenta o consumo de congelados (nas classe A e B, 18% das famílias já compram semanalmente comida congelada, porcentual que chega a 11% na classe C e 7% nas classes D e E) leva o consumidor a buscar o mercadinho perto de casa para comprar bebidas, alimentos, produtos de higiene e limpeza, em vez do grande supermercado. Outra tendência é em relação à saúde, indicada pelo maior consumo de alimentos diet/light: nas classes A e B, 40% já consomem algum tipo de produto dessa linha. Para as indústrias que se beneficiam desse tipo de informação, é relevante a constatação de que a população está envelhecendo, que as famílias estão reduzindo o número de filhos e que o número de lares monoparentais cresce. Para os políticos que adoram dizer que o “danoninho” foi enfim democratizado, um bom argumento às vésperas da eleição: essa foi uma das categorias de produto que mais cresceram, inclusive na classe C.