Ser o último, ficar por último. Taí uma coisa que ninguém gosta e quer. Nas últimas eleições, centenas de candidatos passaram pela constrangedora experiência de ver seus nomes no final das listas de votação. Muitos até zeraram, ou seja, não registraram um votinho sequer. Desculpas para o fiasco não faltam. Uns alegam que desistiram no meio da disputa e culpam o TRE por não ter cancelado o registro da candidatura. Outros dizem que entraram apenas para compor chapa. Justificativas à parte, o certo é que ficarão marcados como os lanternas da maior eleição da história do Brasil.

Porém, há quem encare a rabeira com bom humor. Um desses, por incrível que possa parecer, é Rui Costa Pimenta. O presidente do sisudo e radical Partido da Causa Operária (PCO) obteve 38.608 votos, 0,0% dos válidos. Motivo para tristeza? Nada disso. “Quando aceitei a indicação do partido, já sabia que seria o último colocado. Mas isso em nenhum momento me desanimou. Não me considero uma pessoa vaidosa, mas sou ambicioso”, diz Pimenta. O presidente do PCO acredita que, apesar da inexpressiva votação, os objetivos do partido foram alcançados. “Adquirimos experiência e tornamos o PCO conhecido nacionalmente. Tivemos votação em 80% dos municípios.” A lanterninha na eleição presidencial ainda não produziu nenhuma piada ou gozação. Pelo menos é isso que o companheiro Pimenta garante. “A população em geral respeita quem se candidata a um cargo público. Mas também, se alguém fizer piada, vou levar na esportiva. Isso não me incomoda”.

Pensamento semelhante tem o empresário Hélio Saraiva Jr., 44 anos. Com apenas 4 pontos ganhos em nove provas disputadas, é o último colocado real no Campeonato Brasileiro de Stock-Car, a principal categoria do automobilismo nacional. Há outros pilotos atrás na classificação, porém todos disputaram menos corridas do que ele. Bem-humorado, esse dono de cinco badaladas casas noturnas em São Paulo sabe exatamente os motivos que o levam a andar lá atrás. “Eu vou dormir às 4 horas da manhã e acordo meio-dia. Bebo, fumo, gosto de baladas. Como é que vou chegar na frente assim?”, brinca. O empresário afirma que as corridas são um grande hobby, um divã a 200 quilômetros por hora. Mas, mesmo não se incomodando com a rabeira, ele afirma que não quer ficar marcado como uma espécie de Satoro Nakajima, da Stock, uma referência ao japonês trapalhão que um dia foi companheiro de equipe de Ayrton Senna e Nélson Piquet na extinta equipe Lotus. “Tenho dez anos de corridas. Me dei bem em todas as categorias de que participei. Apesar de o nível de competição da Stock ser maior, eu posso garantir que não vou ser o último para sempre”, diz. Se as coisas vão mal nas pistas, fora delas Hélio afirma que é pole-position. “O meu boxe é o mais fashion. É florido, tem sushi e por lá desfilam as mulheres mais bonitas.”

Em alguns casos, ser o último pode significar um ótimo negócio. Que o diga o estudante de medicina Fernando Mirage Jardim Vieira, 23 anos. Aos 17, o garoto prestou vestibular para a conceituada Escola Paulista de Medicina. Veio a primeira chamada e… nada. Na segunda e na terceira, a mesma coisa. Desanimado, já havia voltado às aulas no cursinho quando recebeu um telefonema. “Eles ligaram da faculdade perguntando se eu não tinha interesse em me matricular. Uma menina tinha desistido na terceira semana de aula. Quase nem acreditei. Pensei que fosse brincadeira.” Mesmo chegando atrasado, Vieira não escapou do trote. O corte de cabelo feito pelos veteranos o deixou com um visual punk. Logo, recebeu o inevitável apelido de “O último dos moicanos”. Os torcedores do Palmeiras querem que o exemplo de Fernando seja aplicado pelo time. Até o jogo da quinta-feira 17, contra o Guarani de Campinas, a equipe ocupava o vexatório último lugar no Campeonato Brasileiro, com sérios riscos de chegar a 2003 na segunda divisão. A humilhante situação rendeu comparações hilariantes com o Tabajara F.C., o time de pernas-de-pau do Casseta & Planeta, e com o Íbis de Pernambuco, famoso pela obstinação de ser o pior time do mundo. Os rivais são-paulinos, santistas e, principalmente, corintianos torcem para que o Palmeiras fique exatamente onde está.


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