A pequena Júlia, de dez meses, demorou a reconhecer o pai no aeroporto na segunda-feira 14. No colo da mãe, a jogadora de vôlei Fernanda Venturini, a menina levou quase cinco minutos para abrir o primeiro sorriso. Os dois não se viam havia 60 dias. Foi o único constrangimento vivido na semana passada pelo carioca Bernardo Rocha de Resende, o Bernardinho, técnico da seleção brasileira masculina de vôlei. No resto do tempo, recebeu homenagens por ter recolocado o vôlei masculino no caminho das conquistas. Ele voltava da Argentina, onde, na véspera, liderou, com a obsessão e a energia habituais, a seleção na vitória sobre a Rússia, por 3 sets a 2 (23/25, 27/25, 25/20, 23/25 e 15/13), que valeu o primeiro Mundial da modalidade para o Brasil. “Precisamos crescer ainda mais”, avalia o técnico, bem ao seu estilo.

Bernardinho fez parte, como levantador, da “geração de prata” que, em 1982, ficou com o segundo lugar nos Jogos de Los Angeles e no primeiro Mundial realizado na Argentina. Como técnico, revelou-se um dos mais dedicados profissionais do esporte brasileiro. Sob seu comando, as meninas do vôlei acumularam conquistas como as medalhas de bronze nos Jogos de 1996 e 2000. Com o masculino, disputou nove campeonatos, chegou à final em todos e venceu sete deles. Consegue misturar com equilíbrio trintões veteranos como Giovanne e o levantador Maurício, o melhor do Mundial, o “maduro” Nalbert (28 anos) e os novatos André, o melhor atacante do torneio, e Rodrigão, ambos com 23 anos.

Tamanha eficiência é resultado do trabalho implantado por um técnico que jamais se dá por satisfeito. “O jogo da final me permitirá saber se há times com potencial mais alto do que o nosso para os Jogos de 2004”, disse ele. “Nosso time é quase completo, mas ainda é baixo.” Além disso, não tem pena de submeter seus atletas a exaustivos treinamentos. Para ele, o momento de parar não é o do cansaço extremo, mas aquele em que o técnico se convence de que a jogada está boa. Nos Jogos de 2000, ele ainda comandava o feminino. Em Camberra, capital da Austrália, iniciava seus treinamentos antes do masculino e os encerrava pelo menos uma hora depois. Realizava os coletivos e, em seguida, subia numa mesa e dava centenas de cortadas em direção ao time do outro lado. Enquanto ele berrava, as meninas mergulhavam no chão para defender os
torpedos. De vez em quando, uma mostrava os braços vermelhos de tanto receber pancada. Nos corredores, algumas choravam. “Sou exigente, perfeccionista e impaciente”, costuma dizer o técnico. Se ele continuar no cargo com a mesma determinação e talento até 2004, os brasileiros terão um bom motivo para acreditar nessa medalha olímpica.