Como nove entre dez brasileiros, o universitário Fernando Mimoso Seabra, 22 anos, é um apaixonado por carros. Aluno do quarto ano de engenharia e funcionário do setor de química da Basf, ele costuma passar o dia todo atarefado. Na quarta-feira 16, porém, Seabra acordou com um humor diferente. Na véspera, havia conseguido dispensa do trabalho e, com o primo Paulo,
25 anos, saiu de Cruzeiro, no interior paulista, rumo à capital para visitar o Salão do Automóvel. Pilotando um Gol Mil, sem ar-condicionado ou direção hidráulica, Seabra percorreu 210 quilômetros na movimentada Dutra e encarou boa parte da congestionada Marginal Tietê, cozinhando a uma temperatura superior a 37 graus centígrados. Às 13h30 ele conseguiu uma vaga no estacionamento do Anhembi e meia hora mais tarde aguardava na fila do portão oito a abertura do salão para o público. “É claro que vale o sacrifício”, dizia, enquanto enxugava o suor que lhe corria pela testa com um pedaço de papel. “Adoro carros e aqui posso conhecê-los em detalhes e sonhar com a possibilidade de um dia conseguir comprar alguns desses modelos mais sofisticados.”

Logo que entrou no salão, Seabra encontrou o estande da Audi. Admirou de longe o novo A8 – um sofisticado sedam de R$ 393 mil que só falta falar –, deu uma rápida passada de olhos pelos A3 – os únicos fabricados no Brasil e já bastante frequentes em nossas esburacadas alamedas – e parou, fascinado, diante de um conversível A4. “Isso é uma obra de arte”, murmurou para o primo, enquanto caminhava quase que em transe ao redor do carro. A pseudo-hipnose durou alguns poucos segundos. Logo o universitário voltou a si. Bastou a bela demonstradora lhe informar o preço do novo lançamento da montadora alemã disponibilizado para o mercado brasileiro há uma semana: R$ 190 mil. “É muito dinheiro”, disse-lhe o primo. “É”, respondeu o desiludido universitário. “E o problema é que com essa insegurança é até perigoso sair na rua com um carro desses”, completou. A precaução, no entanto, deu lugar à euforia tão logo Seabra foi abordado pela reportagem de ISTOÉ e por uma equipe da Audi. Depois de informar que sabia dirigir e que sua carteira de habilitação estava em ordem, o universitário foi convidado a passear pelas ruas de São Paulo durante algumas horas, ele mesmo conduzindo um A4 Cabriolet igualzinho ao que estava exposto no salão. “Vocês estão de brincadeira com minha cara”, reagiu inicialmente. Quando constatou que não era uma brincadeira, Seabra não se conteve. “Isso é como ganhar na loteria. É claro que quero andar no carro”, afirmou. Nem mesmo o fato de seu primo não poder estar no carro com ele o desanimou. “Não tem problema. Se for o caso, ele fica por aqui mesmo”, disse. Quando soube que durante o passeio teria como carona a modelo Juliana Raizza, 24 anos, o universitário não se conteve: “Tenho namorada e sou muito fiel, mas ela terá que entender que recusar essa proposta seria desumano.”

Não sou feio – Por volta das 14h30, Seabra começou sua tarde de príncipe. Ainda no estacionamento, mostrou cavalheirismo. Abriu a porta para Juliana, deu a volta por trás do conversível prata, colocou óculos escuros, ligou o motor e apertou o botão para em menos de 13 segundos baixar a capota. Acionou o ar-condicionado programado para 18 graus centígrados e logo se virou para a garota: “Estou no paraíso. Mesmo
com a capota aberta esse ar condicionado funciona”, disse. O universitário não encontrou nenhuma dificuldade com o câmbio automático e ainda na engarrafada Marginal usou o modo Multitronic. Trata-se de uma variação do câmbio que permite ao motorista trocar as seis marchas manualmente com um simples toque em botões posicionados no volante. “É impossível errar, pois, se não tiver rotação suficiente para a troca da marcha, o carro simplesmente não aceita o comando”, afirmou mais tarde. Enquanto permaneceu no congestionamento da Marginal, Seabra praticamente ignorou os assobios e gracejos dos demais motoristas direcionados a Juliana. “No começo ele nem olhava para mim. Ficou apertando tudo quanto era botão, aumentava o som do rádio e admirava cada detalhe do carro”, contou a modelo. Quando deixou a Marginal com destino aos Jardins, bairro badalado de São Paulo, o trânsito fluiu melhor, Seabra estava mais relaxado e constatou que poucas pessoas ao redor deixavam de olhar para o conversível. Na rua Oscar Freire, o universitário estacionou bem na porta de uma doceria. As mesas na calçada estavam lotadas e não houve quem não olhasse para o carro. “Sei que não sou feio, mas acho que estão olhando é para o carro e para a Juliana”, disse. É claro, ele estava coberto de razão. Em uma das mesinhas, uma senhora comentou com a amiga: “Uma moça como essa só está com esse rapaz por causa do carro.” Quando soube do comentário, Seabra não se abalou. Apenas limitou-se a dizer que a senhora falou o que muitos ali deveriam estar pensando.

No recém-inaugurado rodoanel Mário Covas, uma rodovia com quatro pistas ainda sem nenhum buraco, o universitário, já completamente relaxado, pôde curtir ainda mais o A4 motor V6 3.0 de 218 cavalos. Pisou no acelerador e em oito segundos atingiu mais de 100 quilômetros por hora. Seabra só tornou a ficar tenso quando estava voltando para o Anhembi. Sua namorada lhe telefonou. Ele explicou o que estava acontecendo, mas omitiu a presença de Juliana. “Disse para ela que o acompanhante era um homem de perna peluda”, contou. “Mas depois eu explico tudo com calma.” Por volta das 17h30, Seabra estacionou o carro no Anhembi. Encontrou alguma dificuldade para fechar a capota e precisou ser socorrido por Juliana. Depois retormou para seu Gol Mil. “Como é duro cair na realidade! Agora vou voltar sem ar condicionado, sem câmbio automático e sem Juliana”, afirmou.