O sul-coreano Woo Suk Hwang aprontou mais uma. Na semana passada, foi revelada outra fraude do cientista. Trata-se de um estudo anterior à pesquisa com células-tronco geneticamente adequadas ao paciente, que se revelou um embuste e provocou a derrocada do homem que era um herói em seu país. O relatório final do comitê de especialistas da Universidade Nacional de Seul acusou o pesquisador de também falsificar o trabalho que teria demonstrado a possibilidade de se fazer células-tronco embrionárias – aquelas que se transformam em qualquer tecido – a partir da clonagem de embriões humanos.

A publicação desse estudo na revista americana Science, em março de 2004, deu fama internacional a Hwang. Catorze meses depois, também na Science, o sul-coreano anunciou a criação de 11 linhagens humanas de célula-tronco feitas sob medida, com 100% do código genético dos voluntários. O que significaria mais chances de curar enfermidades como o mal de Parkinson. Mas surgiram denúncias a respeito da veracidade do trabalho e a trapaça foi comprovada por meio de exames de DNA. Agora, a investigação mostrou que na pesquisa anterior, a de 2004, não foi feita clonagem alguma.

Segundo o comitê, o único feito científico de Hwang é uma réplica de um cão da raça afghan hound. Snuppy foi criado com a técnica que gerou a ovelha Dolly. De qualquer modo, a carreira de Hwang está destruída. Na quinta-feira 12, ele pediu desculpas públicas. Mas isso não diminui o escândalo. “Não entendo o que leva um indivíduo a fazer isso. Uma fraude dessas não teria vida longa. Ou alguém da equipe delataria ou grupos de fora iriam descobrir ao tentar repetir os resultados”, comenta a pesquisadora Lygia da Veiga Pereira, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Hwang está proibido de sair do país e deve ser processado por malversação da milionária verba do governo aplicada na pesquisa.

Resta saber de que modo o acontecimento afetou a credibilidade das demais pesquisas com células-tronco. “Embora a clonagem de células-tronco embrionárias continue a ser uma esperança, voltamos à estaca zero. O fato que provava sua viabilidade não existiu. Mas isso não interfere nos trabalhos com as células-tronco adultas, que vão muito bem”, diz Ricardo Ribeiro dos Santos, do Instituto de Terapia Celular da Bahia. O pesquisador José Eduardo Krieger, do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração de São Paulo, acha que foi um alerta. “O acontecimento revela que a corrida atrás desse pote de ouro não é tão pura assim, porém mostra que há mecanismos que asseguram a verdade. Precisamos aumentar o controle e discutir se não há expectativas demais em torno das pesquisas. A pressão sobre os cientistas favorece deslizes”, emenda.