Pode ser exagero ou até uma bem calculada estratégia de marketing, mas antes do início do filme Frankenstein (1931) há um prólogo no qual um senhor elegante avisa que o espectador terá a chance de desistir de seu intento. Estratégia semelhante foi adotada nas sessões de Drácula (também de 1931), em que enfermeiras ficavam a postos, caso alguém passasse mal. Hoje, as duas fitas são incapazes de deixar alguém à beira de um ataque de nervos. Em compensação, tornaram-se clássicos impermeáveis do cinema de terror. Ambos integram a Classic monster collection (R$ 160), lançamento com oito DVDs da Universal trazendo os grandes títulos do gênero produzidos pelo estúdio e agora remasterizados e embalados numa sugestiva caixa em forma de caixão. A coleção inclui A múmia (1932); O homem invisível (1933); A noiva de Frankenstein (1935); O lobisomem (1941), lançado dois dias após o ataque de Pearl Harbor; O fantasma da ópera (1943), o único em technicolor; e O monstro da lagoa negra (1954), à época projetado em cópias em terceira dimensão.

Acompanhados de documentários elucidativos e de seus traillers originais, os filmes provam por que são tão cultuados. Acentuam uma influência do cinema expressionista alemão, em especial de O gabinete do Dr. Caligari (1919), e sua atmosfera sombria, que torna o horror mais sugerido do que explícito. As produções também fazem justiça ao talento de cineastas como o inglês James Whale (1893-1957), cujos últimos dias foram retratados no excelente Deuses e monstros (1998). Whale assina a direção de três filmes: Frankenstein, que alçou Boris Karloff ao estrelato; o ótimo A noiva de Frankenstein; e O homem invisível, marco na concepção dos efeitos especiais. Neste, o ator Claude Rains aparece quase o tempo todo coberto de ataduras e com um nariz postiço. Quando fica invisível, sua gargalhada é de gelar a espinha. Mesmo efeito resulta das aparições de Bela Lugosi, o melhor de todos os dráculas. Ele surge pálido, no meio da névoa, apenas com a intensidade do olhar enfatizada por luzes especiais jogadas contra suas pupilas.

Lon Chaney, em O lobisomem,naquele tempo sofria seis horas para se transformar no homem-lobo. O realismo vinha de pêlos de iaque aplicados sobre seu rosto. A caracterização de O monstro da lagoa negra era mais simples. Dois atores se revezavam no papel vestindo uma malha inteiriça e uma máscara-capacete. Para os brasileiros, o filme tem um atrativo especial. Nas primeiras cenas vê-se a bandeira nacional tremulando no Instituto de Biologia Marítima. O filme se passa no Amazonas, mas foi rodado na Flórida. Uma metáfora não pensada, porém, ronda a fita: os brasileiros são os primeiros a sucumbir sob a fúria do bicho escamoso.