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Daqui para frente uma certeza acompanhará as crianças no ônibus que as transporta para a escola primária Sandy Hook, na cidade americana de Newtown – a certeza de que viverão num EUA mais seguro do que os EUA em que morreram recentemente 20 de seus coleguinhas e mais seis adultos, todos assassinados pelo atirador Adam Lanza, que invadiu o colégio armado de um fuzil AR-15 e após a chacina se suicidou. A garantia de um país em que matanças de franco atiradores serão pelo menos inibidas veio na semana passada com a determinação de o presidente Barack Obama enfrentar a até então intocável Segunda Emenda da Constituição americana. Promulgada num pacote de dez outras emendas constitucionais em 1789, ela outorga a qualquer cidadão dos EUA o direito de possuir e portar armas de fogo – a legislação, mais ou menos liberal em cada Estado, sempre foi cláusula pétrea para os republicanos e pelo menos algo não premente de alteração para os democratas.

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O grande sinal de mudança veio agora com a tragédia de Newtown, a décima quinta desde o início do primeiro mandato de Obama. “É hora de passar das palavras à ação, faremos com que o acesso à saúde mental seja ao menos tão fácil quanto a uma arma. Vamos olhar mais de perto uma cultura que glorifica armas e violência”, declarou o presidente. Prova também dos novos tempos é que a própria Associação Nacional do Rifle (NRA na sigla em inglês, com sólida e poderosa base na bancada republicana no Congresso) acena em flexibilizar, ainda que minimamente, as suas posições. Eternamente irredutível diante do argumento de que é preciso controlar a compra de armamentos, passou a admitir que sejam fixados limites em sua aquisição, embora deva continuar se opondo à averiguação de antecedentes criminais do comprador em suas feiras. Outro ponto importante: também na semana passada, a empresa Cerberus Capital Management anunciou a decisão de vender a holding Freedom Group, que fabrica a marca Bushmaster, a mesma do fuzil utilizado pelo atirador de Newtown (a brasileira Taurus é uma das possível compradoras, segundo o “The New York Times”). Essas medidas, ainda tímidas, já são um passo em um país no qual a rede varejista Walmart tem quatro mil lojas e vende livremente armas em pelo menos metade delas. Por iniciativa própria, a cadeia Walmart paralisou a venda de semiautomáticas por meio de seus catálogos online. São, enfim, os 26 mortos de Newtown a mostrarem que até mesmo nos EUA, país do gângster Al Capone e do intocável Elliot Ness, o direito de andar armado não é sagrado.  

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Fotos: divulgação; Scott Olson/Getty Images/AFP Pedro Ladeira/Frame; Xinhua News Agency/eyevine;


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