Neste fim de ano me lembrei muito de uma amiga que não vejo há tempos. Num momento difícil ela me mostrou um espelho. E me fez ver, no reflexo, quem eu era. Depois disso foram muitos anos de terapia. Terapia, digamos, ortodoxa. Mas a lição de autoajuda daquele dia ficou para sempre. Todos precisamos de amigos.

Foi um tempo sombrio. Eu me sentia inadequada no trabalho e fracassada como mulher. Um equívoco ambulante. Hoje sei que esse é um drama tipicamente feminino. Se alguma de vocês aí nunca pensou “sou uma fraude, um dia vão me desmascarar”, que levante a mão! Se alguma de vocês nunca se sentiu deslocada e até rejeitada por não perceber os códigos do mundo corporativo, parabéns. Eu nunca conheci uma mulher assim. Ou melhor, conheci sim. E ela se parecia com um homem!

Sejamos mocinhas. Não tolinhas. Foi o que minha amiga quis me dizer naquele dia. Não deixe sua auto-estima se derreter na frente do espelho. Repetindo minha amiga e correndo o risco de me transformar numa odiosa autora de artigos de autoajuda, elenco algumas regrinhas básicas para ser mulher e ser feliz no trabalho:

1 – Fazer o melhor que podemos em nossa função não é suficiente. O mundo não é justo. O mundo corporativo muito menos. Além de trabalhar bem é preciso entender politicamente o local em que se trabalha. Seja correta, não certinha.

2 – Trabalhar 24 horas por dia só te leva a virar uma chata. Já foi chique, mas esse tempo passou.  Fazer o seu trabalho e o do companheiro espertinho não te levará a ganhar pontos na empresa. E aumentará sua culpa em casa.

3 – Para ser uma mulher forte você não precisa ser uma mulher dura. Suavize-se. Você é uma mulher, afinal. No trabalho e em casa.

4 – Não peça permissão o tempo inteiro para fazer o que deve ser feito. Ser líder e ser mulher é se sentir confortável emitindo sua opinião, mesmo sendo a única mulher na sala. Do trabalho ou de casa.

5 – Não espere ser reconhecida pela sua imensa dedicação. Principalmente se seu chefe for um homem. Ele provavelmente morre de medo de avaliá-la. Provavelmente teme uma reação emocional a uma crítica ou uma acusação de assédio a um elogio. Dê uma chance a ele.

6 – Todas somos capazes de entender as regras não escritas do trabalho. Basta observar, coisa que mulheres fazem muito bem. O problema é que na maioria das vezes reagimos aos códigos por considerá-los inadequados a nós. Não espere que a empresa mude por sua causa. Aceite-a, torne-se uma líder e então mude-a.

7 – Seja generosa com as mais novas. Elas não precisam passar pelo que passamos. Se você já aprendeu, ensine. Objetivamente.

8 – E, finalmente, converse com suas amigas.  Conversar é como estar de frente para o espelho. Nas conversas, organizadas ou não, nos reconhecemos como geração. Nos consolamos com a perspectiva histórica e com nosso papel nesse momento. O papel de estimular a diversidade e abrir novas portas.

Se eu pudesse voltar àquele tempo, teria aproveitado melhor o espelho. Minha imagem seria mais suave. Não teria demorado tanto tempo para me parecer comigo mesma. Minha vida emocional teria sido mais rica. E o trabalho teria tido o tamanho que de fato tem. O de mais um elemento da vida de qualquer mulher.

Ana Paula Padrão é jornalista e apresentadora