A terra dos vikings vive o seu melhor momento desde a Segunda Guerra Mundial. A conclusão é do prefeito de Copenhague, Jens Kramer Mikkelsen, do Partido Social Democrata (SD), há 13 anos no poder. Mikkelsen fez um giro por Brasília, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Na terça-feira 18, ele esteve em São Paulo, onde se encontrou com o vice-prefeito, Hélio Bicudo. O dinamarquês veio estreitar os laços com essas cidades brasileiras e mostrar que Copenhague, com 1,6 milhão de habitantes, está longe de ser uma metrópole pacata e sonolenta. A capital dinamarquesa experimentou uma profunda revitalização
urbanística e transformou-se em uma cidade alegre, que “derreteu
o gelo” escandinavo. Os prédios abandonados do centro foram restaurados e hoje existem 260 cafés e restaurantes. Copenhague nasceu em plena Idade Média (1167), mas abriga obras arquitetônicas
de vários períodos históricos. Do observatório astronômico construído em 1642 pelo rei Christian IV ao castelo Kronborg – famoso por ter sido a inspiração de William Shakespeare para ambientar o clássico Hamlet –, a capital dinamarquesa oferece ainda uma das mais modernas coleções de arte no Museu Louisiana. Hoje, a cidade é uma das que mais recebem turistas na Europa.

Restauração – Copenhague ganhou esse vigor depois do ambicioso projeto Øresund, que ligou a Dinamarca à cidade sueca Malmö. As cidades foram unidas por uma estrutura de 16 quilômetros de comprimento, com uma ponte, um túnel e uma ilha artificial que custaram aos cofres dinamarqueses e suecos o equivalente a US$ 3 bilhões. A Ligação Fixa de Øresund transformou o cenário da região de 21 mil quilômetros quadrados. Ali foram instaladas 15 universidades, que atraíram 130 mil estudantes e pesquisadores dinamarqueses e das principais capitais européias. A população da região – atualmente 3,5 milhões de habitantes – não pára de aumentar. Turistas e novos moradores chegam pelo aeroporto de Copenhague, hoje um dos maiores do mundo. Para se ter uma idéia da produção, hoje o projeto Øresund produz um quinto do PIB da Dinamarca e da Suécia. E isso, é claro, favoreceu muito o crescimento de Copenhague.

A prosperidade da capital dinamarquesa não só chamou a atenção dos estrangeiros, mas também dos próprios dinamarqueses, que antes tinham como principal destino turístico a vizinha Alemanha. “Há dez anos, os dinamarqueses preferiam viajar ou até fazer investimentos, como, por exemplo, comprar uma casa fora do país. Hoje, eles optam por Copenhague”, exultou o prefeito. Outra explicação para o aumento do turismo neste país escandinavo é a segurança. Depois dos atentados de 11 de setembro, os turistas buscam locais com baixos índices de criminalidade e menores possibilidades de ataques terroristas. Nesse sentido, a Dinamarca é um oásis.

Para realizar seu antigo sonho de colocar em prática o projeto Øresund, promessa desde que assumiu a prefeitura da cidade em 1989, Mikkelsen teve que contar com o apoio do governo central e do setor privado. Cerca de 44% dos recursos para o projeto vieram dos cofres federais. Ele também fez parcerias com o empresariado para combater o desemprego. “Fizemos um acordo com as empresas que dão treinamento aos jovens. Se eles permanecerem até o fim destes treinamentos, então a empresa é obrigada a lhes garantir um emprego”, disse.

Soluções – Foi com promessas de acabar com a criminalidade e o desemprego que a extrema-direita européia aumentou seu rebanho nas últimas campanhas eleitorais, em países como a França e a Holanda. “Estou preocupado com o avanço da extrema-direita, baseada no populismo e ligada ao fenômeno da imigração na Europa. Na Dinamarca, a imigração foi a causa, em 1992, da rejeição da população ao ingresso do país na União Européia. Criar empregos para os imigrantes é uma das soluções, desde que eles se adaptem às regras. No meu país, um imigrante é obrigado a aprender o dinamarquês se quiser arrumar um trabalho”, explica.

Sobre o falatório no Exterior de que é arriscado investir no Brasil, Mikkelsen afirmou que “todo país tem riscos e aqui não é diferente”. Por enquanto, os investimentos dos dinamarquesas no Brasil não passam de modestos R$ 260 milhões anuais, mas algumas parcerias significativas na área cultural estão sendo realizadas. Uma megaexposição itinerária de 24 telas do talentosíssimo Albert Eckhout (1610-1664) está sendo preparada para ser inaugurada no dia 13 de setembro no Instituto Ricardo Brennand, no Recife. A coleção do pintor está no Museu Nacional da Dinamarca e a vinda dela ao Brasil foi negociada pelo empresário dinamarquês Jens Olesen, a um custo de US$ 1 milhão. Uma iniciativa que pode ser a primeira de muitas entre Brasil e a próspera Copenhague.