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A popularidade da caricatura vem de longe. O prestígio que as charges tinham, desde que surgiram na imprensa nacional, estava ligado não apenas à qualidade do traço dos desenhistas, mas também à importância que elas tiveram naquele momento. Em meio às profundas mudanças sociais e políticas ocorridas no século XIX, com a propagação de pensamentos abolicionistas e republicanos, a imprensa nacional tinha um problema básico a enfrentar: a maioria da população brasileira era analfabeta. As caricaturas foram, então, fundamentais na divulgação de ideias, a ponto de o diplomata Araújo Porto-Alegre (1806-1879) ter se dedicado a essa arte. O barão de Santo Ângelo, seu título de nobreza, tem destaque em “História da Caricatura Brasileira” (Gala Edições), do historiador Luciano Magno. “Apesar de ter encontrado trabalhos anteriores, o grande precursor da caricatura no Brasil foi mesmo ele, também um grande intelectual”, afirma Magno, que prepara outros cinco volumes sobre o tema.

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O primeiro livro reúne desenhos publicados no século XIX, desde a aparição da primeira caricatura na imprensa nacional, em 25 de julho de 1822, no jornal pernambucano “O Maribondo” (assim mesmo, forma variante de marimbondo). A obra, uma ilustração anônima, refletia o clima da época, de hostilidade aos colonizadores, mostrando os insetos que davam nome ao jornal atacando um cidadão português. Rapidamente, a crítica bem-humorada ganhou a adesão de escritores como Raul Pompeia e Aluísio Azevedo. Luciano Magno, pseudônimo do historiador carioca Lucio Muruci, estuda o tema há 25 anos, 12 deles voltados para o livro atual. O ponto de partida foi o clássico “História da Caricatura no Brasil”, de Herman Lima, de 1963. Magno ampliou o trabalho reunindo mais informações e milhares de outras caricaturas. Nesse primeiro volume da pesquisa, foram reunidas 300 ilustrações que mostram como os desenhistas adaptaram a influência europeia a uma estética nacional, especialmente na relação com a xilogravura nordestina. 

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Mesmo sob o império, os caricaturistas tinham certa liberdade. Quando dom Pedro II tentou intervir na Igreja, na chamada Questão dos Bispos, na década de 1870, não foi poupado de críticas. “O imperador permitiu grande liberdade de imprensa no País e acabou sendo um dos personagens preferidos dos caricaturistas”, afirma Magno. Essa liberdade era relativa. O caricaturista italiano Angelo Agostini foi processado por ter retratado no jornal paulistano “Cabrião” mortos e vivos dançando no Cemitério da Consolação. A publicação foi absolvida, mas passou a enfrentar problemas financeiros. As coisas mudaram com a república, mas não para melhor. O humor cáustico dos artistas foi controlado com mãos de ferro.

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O jornal carioca “O Malho”, que chegou a vender cerca de 30 mil exemplares, foi empastelado pelo Estado Novo. A caricatura, como voz política, ajudou, segundo o autor, a forçar o Brasil a lutar contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mais tarde, ilustradores enfrentaram a ditadura militar publicando em veículos como “Pif Paf”, “Correio da Manhã” e “O Pasquim”. “A charge teve forte papel na redemocratização do Brasil”, diz Magno, que vai homenagear Henfil em publicações futuras. 

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Foto: Thomas D. Mcavoy/Time Life Pictures/Getty Images


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