Isaac Julien – Scopic Landscapes/Galeria Nara Roesler, SP/ até 12/1/2013

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SILÊNCIO
Alturas são exploradas em “Hotel”, da série “Ten Thousand Waves”

Quem perdeu a oportunidade de presenciar o cinema em múltiplas telas do artista britânico Isaac Julien, que esteve no Sesc Pompeia, em São Paulo, até 16 de dezembro, terá a chance de conhecer a fragmentação narrativa de seu trabalho fotográfico em cartaz na Galeria Nara Roesler, em São Paulo, até janeiro.

A mostra apresenta fotografias relativas a três trabalhos que estiveram expostos na cidade: “True North” (2004), “Fantôme Créole” (2005) e “Ten Thousand Waves” (2010), obras bastante diversas, que se referem a momentos históricos ou factuais, ocorridos, respectivamente, no Ártico, na África e na Grã-Bretanha. Uma característica comum, no entanto, permanece em todas as obras de Isaac Julien: a evocação de situações de ascensão e queda, em climas oníricos, que envolvem voos, vertigens, suspensões.

“Adoro a palavra suspensão. Às vezes, as ideias de imigração, explorações e deslocamentos, frequentemente associadas ao meu trabalho, tornam-se clichês”, diz Isaac Julien. “Gosto da sensação de estar suspenso entre espaços: entre arte e vida; entre fato e ficção; entre dois lugares. Meu trabalho, realmente, transita por esses territórios”, diz ele.

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LUTO
A natureza é velada nas fotografias da série “True North”

“Ten Thousand Waves” (Dez mil ondas) é uma ficção que parte de uma história real: um grupo de 23 catadores de marisco chineses que morreram afogados na baía de Morecambe, no Reino Unido, em fevereiro de 2004. Julien parte desse evento trágico e constrói uma narrativa de sonho, em que relaciona os pescadores, a deusa Mazu – deusa dos mares, que é representada no filme pairando sobre a cidade e sobre um rio na província de Guangxi – e o cotidiano de uma prostituta na China pré-revolução.

A forte relação de Julien com a figura feminina leva-o a mudar o sexo do explorador afro-americano Matthew Henson, que chega ao Polo Norte em 1909. “True North” refaz a viagem de Henson, em 1909, colocando o explorador na pele de uma mulher negra.

Nas fotografias expostas na Nara Roesler, o espectador não tem acesso a essas narrativas. Mas essas histórias permanecem como panos de fundo para a natureza misteriosa das imagens. “No tríptico de fotografias da série ‘True North’, a mulher expressa um luto tanto em relação ao explorador quanto em relação ao gelo, que derrete”, diz Julien.

Em seu silêncio e em sua imobilidade, essas imagens nos remetem tanto ao sentimento sublime, que antigos exploradores sentiram em relação às grandes paisagens descobertas, quanto aos desastres ecológicos que nos ameaçam hoje. 

Fotos: Isaac Julien