Batatinha frita, salgadinho e outras delícias menos nocivas à saúde? Se até há um tempo isso não passava de um sonho, agora começa a se tornar realidade. Indústrias alimentícias e empresas de fast-food estão modificando suas receitas para oferecer produtos com menos gordura saturada, presente em alimentos de origem animal, como carne, leite e derivados, por exemplo, que, em excesso, aumenta os níveis de colesterol ruim (LDL). Essa substância é uma das responsáveis pelo entupimento dos vasos sanguíneos, o que pode provocar sérios problemas cardiovasculares, como o infarto.

A tendência deste fast-food mais saudável é, na verdade, impulsionada pelo próprio consumidor. Bem informados sobre a relação entre a alimentação e a saúde, os clientes estão mais exigentes. Ninguém quer abrir mão do prazer de saborear uma boa batatinha, mas, se ela for menos prejudicial ao organismo, melhor. “As pessoas estão mais conscientes do valor nutricional dos alimentos”, confirma Márcio Mancini, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso). É verdade. Sabendo disso, as empresas não querem perder clientes e muito menos passar a ter problemas como os que já começam a surgir. O americano Caesar Barber, 56 anos, 123 quilos, por exemplo, está processando algumas empresas de fast-food, entre elas o McDonald’s, alegando que ficou obeso porque se alimentou durante 40 anos com este tipo de comida.

Um dos mais novos representantes do “fast-food saudável” é o salgadinho Parker’s, lançado há poucas semanas pela Elma Chipps. O petisco é assado – e não frito – e no seu preparo é acrescentado óleo vegetal, mais saudável do que a gordura vegetal hidrogenada, usada habitualmente nesses alimentos. Essas características permitem que o produto tenha uma quantidade mínima de gordura saturada: 1,5% em 20 gramas. Além disso, a empresa garante que o novo salgadinho não tem colesterol, substância geralmente presente nesse gênero de petisco. “Ainda não dá para dizer que é saudável comer salgadinho, mas realmente o produto apresenta um índice baixo de gordura, que prejudica bem menos o organismo do que os fritos”, afirma Mirtes Stancanelli, nutricionista de São Paulo.

O McDonald’s também está se adaptando aos novos tempos. Há mais de três anos a empresa começou a fritar seus produtos em óleo com pequena quantidade de ácidos graxos, substâncias que também fazem mal à saúde do coração. Mas agora eles prometem mais. Em breve, a rede garante que passará a utilizar um óleo com taxas ainda menores dos tais ácidos. “O consumidor terá acesso a um alimento mais nutritivo”, afirmou a ISTOÉ Walt Riker, porta-voz da rede. Essa mudança de receita é comemorada pelos especialistas. “É mais um passo importante para combater os altos índices de obesidade”, acredita a nutricionista Anita Sachs, da Universidade Federal de São Paulo.

E não são apenas as indústrias que se esforçam para desenvolver guloseimas mais saudáveis. Os cientistas também. Pesquisadores da Universidade de São Paulo preparam os testes sobre a eficácia no controle do colesterol de um salgadinho feito com amaranto (amaranthus caudatus L.) – planta presente em regiões de altitudes elevadas, como os Andes. “Já se sabe que, em animais, a planta reduz os níveis de LDL e aumenta os de HDL, chamado de bom colesterol porque ajuda a retirar o LDL dos vasos sanguíneos. Queremos ver como ela funciona nos seres humanos”, conta Rosa Nilda Chávez, engenheira química que participa do estudo. Quem provou o salgadinho garante que ele é gostoso.

A fruta amiga do coração

Enquanto empresas e consumidores se esforçam para chegar a um fast-food mais saudável, a ciência também oferece boas notícias a quem aprecia a boa mesa e o corpo em forma. Várias pesquisas estão mostrando o poder de muitos alimentos contra o colesterol, substância que, em quantidades desequilibradas, representa um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Um dos últimos estudos sobre o tema foi conduzido na Universidade de Brasília. O trabalho confirmou a eficácia do abacate no controle deste tipo de gordura.

A investigação revelou que a fruta é rica em gordura monoinsaturada, considerada saudável porque ajuda a eliminar da circulação sanguínea o LDL, o chamado colesterol ruim. Ele entope os vasos sanguíneos, fenômeno que pode levar complicações cardiovasculares. Ao mesmo tempo, o abacate aumenta as taxas do HDL.

No estudo, foram avaliadas 25 mulheres com taxas médias de colesterol total (a soma do HDL e o LDL) de 170 mg/dcl (miligramas por decilitro de sangue). O limite aceitável é de até 200. Todas consumiram em média meio abacate por dia durante um mês, sem alterar seus hábitos alimentares. A conclusão foi surpreendente. Apesar de o grupo estar com a taxa de LDL por volta de 121mg/dcl (o normal é de 130 a 160), ou seja, dentro do aceitável, elas reduziram essa quantidade em 11%. “E quanto menor os níveis do colesterol ruim, melhor para a saúde do coração”, afirma o nutricionista Henrique Soares, autor da pesquisa.

De fato, uma queda de 1% do LDL diminui o risco de ocorrência de problemas cardíacos em 1,5%. Além disso, o nível de HDL aumentou em 7%. O ideal é que as taxas estejam acima de 40 mg/dcl e o das participantes estava menor do que o recomendado. Tão bom quanto isso foi a constatação de que as mulheres não engordaram, mesmo consumindo meio abacate por dia. A explicação pode ser o fato de que a fruta garante sensação de saciedade apesar de bastante calórica.

Informações como essas ensinam que o segredo é variar e equilibrar as refeições. A recomendação é seguida à risca pelo técnico em eletrônica José Flávio Zampini, 42 anos, de São Paulo. Há 18 anos, ele descobriu que estava com as taxas de LDL na casa dos 300 mg/dcl. Imediatamente passou a fazer dieta e a tomar remédios. Mesmo assim teve uma angina – forte dor no peito – e no ano passado implantou três pontes de safena e uma mamária no coração. Hoje, ele e seus dois filhos, Rebecca, 16 anos, e Thiago, 13, que também tinham LDL elevado, seguem uma alimentação à base de frutas, legumes, cereais, pão integral, leite desnatado, carne branca – e não abrem mão dos medicamentos. “Conseguimos diminuir nossas taxas do colesterol ruim”, comemora Zampini.