Tânatos, o deus grego da morte, parece ter encarnado nos subúrbios de Washington. Suas manifestações são imprevisíveis, a não ser pela infalibilidade da mira e por acompanharem os atos mais corriqueiros do cotidiano das pessoas. James (Sonny) Buchanan Jr., 39 anos, estava aparando a grama do jardim quando o contato ocorreu. Lori Ann Rivera, 25, passava o aspirador de pó no tapete do carro. Prem Kumar Walekar, 54, enchia seu tanque de gasolina num posto. James Martin, 55, saía com as compras de um mercado. Sarah Ramos, 34, tomava sol num banco perto do correio. Pascal Charlot, 72, estava parado numa esquina. Estes morreram rapidamente. Uma mulher de 43 anos, que estava na frente de um shopping, conseguiu escapar com vida. Mas está em estado crítico no hospital. E um garoto de 13 anos, que se encaminhava para a entrada da escola, também foi gravemente ferido. Nenhum deles tem em comum nada mais do que a região geográfica onde moravam, e a perfuração de uma única bala cujo ferimento tem o diâmetro de um pires. Tudo isso num período de cinco dias (entre 2 e 7 outubro).

São todos vítimas de um misterioso franco-atirador que está aterrorizando Maryland, pertinho da capital americana. As únicas pistas deixadas pelo matador foram uma cápsula de bala calibre .223, uma carta de tarô com o símbolo da morte e uma mensagem escrita pelas mãos assassinas: “Caro policial. Eu sou Deus.” Até quarta-feira 9 foram oito vítimas do franco-atirador de Washington. Por enquanto, além do cartão de visita macabro, os especialistas do FBI só têm um perfil provável traçado com base em sua experiência com assassinos seriais. “Imagina-se que o criminoso seja americano, branco, entre 30 e 40 anos. É especialista em tiro ao alvo, provavelmente com currículo militar. Deve ser solitário, não tem empatia com o sofrimento de suas vítimas, se julga intocável, está gostando muito da atenção recebida, acompanha o que se diz dele na imprensa e vai continuar até ser preso ou morto”, disse a ISTOÉ o agente Clint Van Zandt, do FBI.

Agarrar esta criatura misteriosa será ainda mais difícil por causa de seu método de ataque. Todas as vítimas foram atingidas a partir de uma distância igual ou maior do que a de seis campos de futebol enfileirados. Uma proeza da qual pouca gente é capaz. Para isso, sua posição de tiro é rente ao solo, possivelmente deitado. Usa um rifle poderoso de alta precisão, com mira telescópica acoplada, e a famigerada bala calibre .223, a preferida dos atiradores de elite. Com esta precisão de máquina, o auto-intitulado “Deus” tem mantido as pessoas presas em casa, repetindo o enredo da história Little murders (Pequenos assassinatos), do escritor e cartunista Jules Feiffer. Nela, as pessoas de uma cidade americana não podem sequer abrir as janelas de casa, sob o risco de tomarem um tiro. Nos subúrbios de Washington a vida, dramaticamente, imita a arte.