As eleições ainda não terminaram, mas os resultados apresentados pela primeira fornada que saiu das 320.458 urnas já começaram a esboçar um quadro do que será o eixo político do País nos próximos anos. A nova composição da Câmara Federal, por exemplo, mostra que quem sair vencedor na batalha final que definirá o futuro presidente da República terá que ser um exímio negociador. Seja Lula, seja Serra.

Os 94.780.248 eleitores que compareceram para votar no primeiro turno proporcionaram aos partidos de esquerda um crescimento de 31%. Só o PT expandiu os seus domínios para 91 das 513 cadeiras. Antes tinha 58. Já a chamada base de sustentação do atual governo, que termina no final deste ano, não teve a mesma sorte. O PFL perdeu 14 cadeiras e passou de 98 para 84. O PMDB tinha 87 e baixou para 74. Mas quem mais cedeu lugar foi o PSDB, que tinha 94 cadeiras e ocupará 71. Um prejuízo de 23 deputados federais. A esquerda subiu significativamente, mas não o suficiente para facilitar a vida de Lula, se for ele o próximo presidente. E o impacto sofrido pela aliança tucana vai obrigar Serra, se eleito, a malabarismos de diplomacia e negociação.

O primeiro turno mostrou um eleitor implacável. Políticos de carreira, alguns notáveis e outros notórios, foram barrados nas urnas. É o caso de Leonel Brizola, Orestes Quércia, Newton Cardoso, Paulo Salim Maluf, Antônio Britto, Gilberto Mestrinho, Fernando Collor, Iris Rezende…
Esta eleição abusou também dos números. O vencedor do primeiro turno, Luiz Inácio Lula da Silva, teve 39.443.765 votos, a maior votação da história. Aloizio Mercadante, do PT, também é recordista. Ele foi eleito senador, com 10.491.345 votos.

Dos 115.254.113 eleitores, 20.473.568 não apareceram para votar. E, dos que compareceram, 6.975.128 anularam seu voto para presidente. Assim fez o cardiologista Enéas Carneiro, cumprindo a determinação de sua bancada, que pregava o voto nulo. Mas nele próprio, com certeza, ele votou, engrossando os mais de 1,5 milhão de votos que fizeram dele o deputado federal mais bem votado. Seu partido, o Prona, tornou-se um fenômeno, ou uma anomalia, graças a uma legislação eleitoral baseada em complicada aritmética que carregou com ele, para Brasília, mais cinco deputados eleitos. Um deles também é recordista: o clínico homeopata Vanderlei Assis chega a deputado federal, com parcos 275 votos.
Na batalha final pela Presidência da República, o candidato José Serra vai ter que derrotar os números que jogam contra ele. O candidato tucano teve metade dos votos de seu oponente. Os preparativos já estão em andamento. Não perca.