É sempre assim. Após a eleição, cada partido puxa a brasa para seu lado. Na fria aritmética, ficam algumas certezas. Nem José Serra nem Luiz Inácio Lula da Silva têm os 3/5 no Congresso para aprovar as reformas prometidas; os partidos de esquerda cresceram cerca de 45%, mas o atual quinteto governista PMDB, PFL, PSDB, PTB e PPB, apesar de ter emagrecido, manteve a hegemonia; e, finalmente, o PFL, o principal braço da direita partidária, fica longe do eixo de poder no Executivo e no Legislativo, independentemente do futuro inquilino do Planalto. Todos cobiçam votos do PFL, mas não toleram a ascendência de outrora e, para as alianças políticas, preferem outros parceiros. “É verdade, ficamos mais longe do poder”, resigna-se o líder Inocêncio Oliveira (PE). O PFL se desidratou em 14 deputados e ganhou apenas um senador. Dos sete governadores atuais, reelegeu três em feudos conhecidos – Bahia, Tocantins e Maranhão – e disputa o segundo turno em duas tradicionais capitanias, Rondônia e Sergipe. O previsível exílio do cenário nacional e a volta aos grotões é mais político e menos quantitativo. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), tem mais quatro anos de mandato, mas seu filho amargou um quarto lugar na disputa pelo Senado. A liderança de Bornhausen ficou arranhada. O ex-líder Hugo Napoleão também perdeu a eleição no Piauí. Marco Maciel (PE) conquistou um mandato de senador e será o contraponto a ACM (BA), que volta sem a força de antes. Segundo analistas, alguns pefelistas tendem a trocar de sigla. Se der Serra, buscarão partidos de centro de acordo com conveniências locais, e se der Lula, o rumo é o PL: “Sempre terá gente querendo sair, mas não passa de 15”, minimiza Mendonça Filho, vice-governador de Pernambuco.

De largada, Luiz Inácio Lula da Silva pode contar com todos os partidos de esquerda, mas, se eleito, tentará atrair, preferencialmente, os tucanos. Se não der, o alvo é o PMDB. José Serra, caso chegue ao Planalto, tem mais possibilidades de formar essa maioria com os tucanos, o PMDB, a maior fatia do PFL, o PPB e o PTB. A negociação no baixo clero é praticamente impossível e desgastante. O caminho mais curto é seduzir os comandos partidários. As cúpulas partidárias, por onde passam as negociações, continuam encasteladas em seus domínios. O PMDB reelegeu toda a direção: o presidente, Michel Temer (SP), e os líderes Geddel Vieira Lima (BA) e Renan Calheiros (AL), Eliseu Padilha (RS) e Moreira Franco (RJ). Outros caciques que voltam são Jader Barbalho (PA) e Henrique Eduardo Alves (RN), mas agora desgastados. O PFL sofreu abalos, mas a pior derrota foi dos tucanos: perderam três senadores e 24 deputados. Os caciques do partido tropeçaram. O presidente José Aníbal (SP) perdeu a eleição e nomes como Artur da Távola (RJ), Geraldo Mello (RN) e Dante de Oliveira (MS) também quebraram o bico nas urnas.

O primeiro embate será a eleição para o estratégico posto de presidentes da Câmara e do Senado. No Senado, PMDB e PFL, ambos com 19 senadores, irão reivindicar a presidência. Na Câmara, o maior partido será o PT, com 91 deputados. Com essa bancada, tem o direito de indicar o futuro presidente da Câmara. Nessa guerra, sempre foi decisiva a participação do presidente da República. Se der Serra, a divisão poderia ocorrer diretamente entre o PMDB, no Senado, e o PSDB, na Câmara, através da formação de blocos partidários. Se der Lula, tudo muda de figura. “O PT tem candidato para a Câmara. É o deputado José Dirceu”, antecipa o petista Marcelo Deda (SE). Fica a encrenca no Senado. O PT prefere um tucano por dois motivos: a governabilidade interna e a credibilidade que os governistas conquistaram no Exterior. Mas, se as feridas da guerra do segundo turno forem sangrentas, o PT fará a parceria com o PMDB, no caso José Sarney, para substituir Ramez Tebet.