A surpreendente arrancada do petista José Genoino rumo ao Palácio dos Bandeirantes representa não só a ocorrência da onda Lula na sucessão paulista. Já há quem entenda que a ascensão do PT marca o fim do “malufismo” como força política, embora admita-se que os votos dados ao ex-prefeito possam definir o segundo turno. O fato de o ex-governador e ex-prefeito da capital Paulo Maluf ter ficado fora da disputa final mostra que a fidelidade de seus eleitores, antes considerada um fenômeno, segue os mesmos passos do adhemarismo e do janismo. Apesar de ser essa a terceira derrota consecutiva de Paulo Maluf, é a primeira vez que ele não emplaca um segundo turno. Mesmo assim, o ex-prefeito não admite seu fim na política. “Qual o senador fora de São Paulo que conseguiu a minha votação? Isso é o fiel da balança para dizer que o malufismo está vivo”, afirma. O problema de sua afirmativa é que os senadores fora de São Paulo disputaram um eleitorado infinitamente menor do que o paulista. “Durante a campanha houve uma comparação entre os candidatos e Maluf saiu perdendo por transmitir ao eleitor um conceito de político do passado”, diz o consultor de marketing político e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Gaudêncio Torquato. Ao contrário de Maluf, o professor discorda da tese de que os 4,3 milhões de votos obtidos pelo ex-prefeito sejam suficientes para garantir a sobrevida do malufismo. Segundo ele, os tradicionais eleitores do eterno “tocador de obras” estão envelhecendo e tendem a diminuir cada vez mais. “A nova geração só conhece o Maluf dos escândalos”, avalia.

Na noite do domingo 6, enquanto o silêncio imperava na mansão da rua Costa Rica, residência do ex-prefeito, a poucos quilômetros dali, no sobrado do comitê do PT, as parciais da apuração eram comemoradas como se fossem gols do Brasil em final de Copa do Mundo. O objetivo de enfrentar o governador tucano Geraldo Alckmin no segundo turno estava atingido. Passados os festejos, o time petista imediatamente deu início à segunda fase da campanha. Na segunda-feira 7, Genoino anunciou a estratégia: “Vamos fazer uma agenda casada com o Lula.” No PT ninguém esconde o fato de que a disputa à Presidência ter ficado para o segundo turno poderá beneficiar Genoino. “É irônico, não é o que a gente queria. Mas se não fosse o segundo turno para a Presidência, todas as atenções seriam voltadas para o novo Ministério do Lula ou se ele vai ou não para Washington”, avalia o presidente estadual do PT, Paulo Frateschi. “Agora é viável acreditar que nossa candidatura estadual tenha maior visibilidade.” Na última semana, os coordenadores da campanha de Genoino mapearam o Estado com base nos resultados da eleição. A idéia é trabalhar nas cidades onde o desempenho do PT ficou a desejar. O passo primordial, no entanto, é descobrir um modo para atrair os órfãos de Maluf – quase um quarto dos eleitores – antes que o pessoal de Alckmin saia na frente nessa conquista. O comitê de Genoino aposta na tese de que se os eleitores dos demais candidatos são oposição ao governo Alckmin, agora o PT seria o único a ter chances de evitar uma terceira gestão dos tucanos no Estado. Exatamente por causa disso, a outra prioridade para os próximos 20 dias é atrair o apoio político dos candidatos derrotados. Antônio Cabrera, da chapa de Ciro Gomes, já fechou com Genoino. Também está do lado petista o PMDB de Orestes Quércia e a deputada reeleita Luiza Erundina (PSB). De Maluf, o PT já avisou que quer apenas o voto.

No QG tucano, a estratégia não é muito diferente. Para esses 20 dias que antecedem o segundo turno, Alckmin trabalha com duas frentes. A primeira é a de se fixar o máximo possível na imagem do ex-governador Mário Covas e a outra é correr atrás de apoios que extrapolem o PSDB. O deputado Campos Machado, líder do PTB no Estado, já anunciou a adesão. Até que os dois blocos sejam compostos, o curioso é que nessa disputa por adesões de última hora, nem Alckmin nem Genoino se atrevem a malhar Paulo Maluf em praça pública. Tudo indica que o malufismo esteja mesmo vivendo seu ocaso, mas 4,3 milhões de votos podem definir muito bem quem será o novo governador de São Paulo.

Dona Marta solta o verbo

Em 2000, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy e Paulo Maluf se estranharam. De lá para cá, sempre que possível os dois trocam farpas.
ISTOÉ – A sra. esperava essa derrota de Maluf?
Marta Suplicy –
Mais dia, menos dia, isso ia acontecer. Reflete um amadurecimento e a conscientização das pessoas.
ISTOÉ – Por que esse dia ocorreu agora?
Marta –
Quem observou o Maluf nessa campanha pôde perceber o quanto ele é uma pessoa ultrapassada, uma pessoa com métodos e jeitos do passado, alguém que o eleitor não quer mais nesse meio.
ISTOÉ – Isso significa que chegou ao fim a “era Maluf”?
Marta –
Sim, é claro. O Maluf acabou. O marco disso vem junto com a era do PT, com a vitória do Lula e do Genoino.
Vem com o Brasil novo, com outras prioridades, como o combate à exclusão social e a honestidade.
ISTOÉ – A sra. não espera encontrar o Maluf numa futura disputa, como a eleição à Prefeitura de São Paulo?
Marta –
Eu acho que agora ele desiste. Essa é a terceira ou quarta derrota consecutiva dele. Fora as outras seis ou
sete no total. Isso mostra que ele não passa desse patamar. Não é uma questão de persistência. É uma questão de mudança de valores. E isso não tem volta na população, pois é uma nova postura de conscientização. Ali não tem jeito, o Maluf tem de saber que o mundo caminha numa outra direção.