Os números não mentem e são cruéis para o candidato tucano José Serra: em menos de três semanas ele terá uma tarefa hercúlea no segundo round da batalha pelo Palácio do Planalto. O petista Luiz Inácio Lula da Silva não liquidou a fatura, como esperava nas vésperas da eleição, mas passou para o segundo turno em meio a uma onda petista que varreu o País, carregando um caminhão de votos: 39,4 milhões, quase toda a população da Espanha (39,6 milhões). O dobro do que teve o candidato do PSDB (19,7 milhões). A diferença entre a votação de Lula e a de Serra é avassaladora: 19 milhões, 743 mil e 360 votos. Ainda no campo das comparações, representa mais do que toda a população da Austrália (18,9 milhões). Só mesmo um fato surpreendente e imprevisível – como Lula antecipar a nomeação de Fernandinho Beira-Mar para o Ministério da Defesa – poderá provocar uma revolução na aritmética eleitoral, ainda mais considerando que ambos terão agora o mesmo tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na tevê: dez minutos. Na ponta do lápis, Lula tem que conquistar 3,5 milhões de votos e Serra, seduzir 22,5 milhões de eleitores.

A principal estratégia de Serra é desafiar Lula para o maior número de debates possível e tentar mostrar que o petista não tem preparo para governar o País. Os tucanos também admitem fazer ataques duros contra o PT no horário eleitoral, poupando Lula, mas mostrando os problemas em administrações petistas, como Santo André, Ribeirão Preto e Rio Grande do Sul. Ao partir para uma campanha mais agressiva, Serra espera empolgar os aliados e mobilizar empresários e formadores de opinião para tentar a difícil missão de virar um jogo que, se fosse futebol, estaria 2 x 0 aos dez minutos do segundo tempo. Os aliados de Serra pretendem expor as contradições de Lula, como fizeram com Ciro, e a sua relação com o MST. O objetivo da campanha tucana deverá ser espalhar o medo e a incerteza para provocar a volta do voto conservador a Serra. Finalmente os tucanos prometem associar a imagem de FHC à de Serra, o que não aconteceu no primeiro turno. Logo depois das eleições, o presidente não só passou a ajudar nas articulações políticas em favor de Serra como avisou: “O presidente não pode se confundir com cabo eleitoral. Essa é minha limitação. Fora disso, farei o que for necessário.”

Apesar da expectativa de bombardeio, a maré anda tão boa para Lula que, na disputa pelos apoios políticos, ele também nada de braçadas. Na noite de domingo 6, os telefones do comitê da campanha em São Paulo estavam pegando fogo. O senador José Sarney (PMDB-AP) foi um dos primeiros a ligar para o principal articulador de Lula, deputado José Dirceu. Obstinado, o presidente nacional do PT tomou fôlego e começou a plantar as sementes dos apoios que recolheria nos dias seguintes: o PPS de Ciro Gomes, o PDT de Leonel Brizola, o PSB de Anthony Garotinho. Eles vão integrar o comando da campanha de Lula. Os petistas ofereceram aos aliados a participação no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que Lula pretende criar caso seja eleito e será uma espécie de embrião do pacto social defendido pelo petista. Mas a campanha de Lula também vem pescando apoios nos setores conservadores, que sempre foram antipetistas e agora passaram a ver a figura de um príncipe em quem já foi encarado como sapo barbudo. São os desafetos dos tucanos.

O PT, é claro, no seu novo figurino pragmático, deixou as portas abertas para os acenos vindos de ovelhas desgarradas do PMDB, do PPB e do PFL, partidos que formaram a base de apoio de FHC e agora declararam oficialmente seu apoio a Serra. Mesmo depois de ter sido atropelado pelo petista José Genoino na disputa pelo governo de São Paulo, Paulo Maluf (PPB), arquiinimigo do tucano Geraldo Alckmin, mandou seu recado para líderes petistas: está pronto para declarar
voto em Lula e em Genoino. Uma das mais importantes lideranças do partido de Maluf, o deputado Delfim Netto (SP) “lulou” de vez, depois de encontrar-se com o próprio candidato. Lula conseguiu o apoio dos integrantes do PL do Rio de Janeiro, que estavam com Garotinho. O deputado Bispo Rodrigues e o senador eleito Marcelo Crivella, ambos da Igreja Universal do Reino de Deus, já anunciaram que vão votar em Lula. Serra contra-atacou, visitando, na terça-feira 8, o pastor José Wellington, presidente nacional da Assembléia de Deus.

Lula já avisou que aceita de bom- grado apoio de qualquer coloração ideológica. Segundo ele, voto é como salário: a gente sempre quer mais. “Tendo 16 anos de idade, título de eleitor, gostando ou não do PT, gostando ou não do meu programa e tendo a obrigação de ir a uma urna digitar um número, quero que digite o 13”, afirmou. O recado foi ouvido pelo senador eleito Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA): “Pretendo dar o meu voto a Lula. O que não impediria de fazer oposição a Lula passada a eleição, salvo nos projetos que julgue de interesse nacional. Não haverá nenhum problema e nenhum morticínio por causa disso.” A senadora eleita pelo Maranhão Roseana Sarney (PFL) já reafirmou seu apoio a Lula. Na terça-feira 8, durante café da manhã com prefeitos da região do ABC paulista, Lula foi enfático: “Estou querendo voto até de quem não quer mudança.” Depois de se reunir com o presidente do PSB, Miguel Arraes, Garotinho garantiu a adesão ao petista. Mas antes recomendou a Lula enfrentar os Estados Unidos em várias questões: não ceder a base de lançamento de foguetes de Alcântara (MA), repudiar a Alca e recusar as exigências do FMI. Garotinho quer ainda a defesa do salário mínimo de R$ 280. Também avisou que não sobe no mesmo palanque da governadora Benedita da Silva, do PT, escolhida por Lula para coordenar sua campanha no Estado.

Já Ciro foi mais contundente ao aliar-se. Quando a apuração já indicava o segundo turno, Lula telefonou para ele à meia-noite de domingo. O único empecilho para a declaração de voto seria o senador Roberto Freire, presidente do PPS, que antes da eleição chegou a declarar que “um governo Serra não seria uma tragédia”. A implicância de Freire com o PT é velha conhecida do folclore político, mas Ciro saiu na frente e, ao dizer que estaria com Lula, engessou a opinião do senador. Um dia depois da eleição, Dirceu procurou Freire para discutir como se daria o apoio. No dia seguinte, terça-feira 8, Ciro e o senador estavam juntos na entrevista coletiva. Enfático, o ex-presidenciável disse com todas as letras: “Meu apoio é irrestrito e entusiástico. Estou à disposição. Agora, como vou participar, é com o PT”, afirmando que o PPS não vai impor nenhuma condição ou exigência de cargos caso Lula seja eleito. Ciro ainda repetiu diversas vezes que estaria à disposição e faria o que a coordenação da campanha de Lula sugerisse. Se Ciro conseguir transferir para Lula apenas alguns dos votos que teve no Ceará, o petista já sairia no lucro: Ciro foi o primeiro no Estado e Serra teve pífios 8% dos votos válidos.

Nova aliança – O tucano, por sua vez, tenta refazer a aliança que elegeu FHC. Tem tido dificuldades, mas vem conseguindo adesões importantes de ex-integrantes da Frente Trabalhista que apoiou Ciro. É o caso do presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), e do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Dentro do PFL, o tucano já contava, entre outros, com o apoio do vice-presidente Marco Maciel (PE) e do presidente do partido em São Paulo, Cláudio Lembo. No dia seguinte à eleição, com ânimo renovado por ter conseguido passar para o segundo turno, Serra ligou para o deputado Inocêncio Oliveira (PE): “Vou ser direto. Parabéns pela grande votação. Eu preciso de seu apoio.” Inocêncio lembrou que foi “massacrado” na disputa pela presidência da Câmara, quando ganhou o tucano Aécio Neves (MG). Mas disse que não ficaram cicatrizes: “Cicatriz dá fibrose, fibrose engessa.” Mesmo sem Delfim e Maluf, Serra tem o apoio oficial do PPB, personalizado pelo deputado Francisco Dornelles (RJ). No PMDB, o presidente nacional Michel Temer, que já estava ao lado de Serra, foi indicado coordenador da campanha, junto com o presidente nacional do PSDB, José Aníbal (SP), que perdeu a eleição para o Senado, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e Marco Maciel.

Durante o primeiro turno a coordenação da campanha estava centralizada nas mãos do ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB-MG), que foi acusado de ter prejudicado Serra. Um exemplo disso foi a crise com a equipe de marketing comandada por Nizan Guanaes. Ao deixar a campanha, na segunda-feira 7, Pimenta ironizou: “A coordenação deve ficar com os eleitos do partido.” Serra precisa colocar logo o bloco na rua. Afinal, de todos os Estados, ele só venceu em Alagoas. Um problema enfrentado pelo tucano no segundo turno é que alguns de seus companheiros de partido não estão demonstrando entusiasmo. É o caso de Jereissati, que já avisou que não sairá do Ceará.

Ele alegou que precisa se dedicar à campanha de seu candidato ao governo, Lúcio Alcântara, que disputa com o petista José Airton. Outro problema: o governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), recusou participar da coordenação da campanha do colega. “Além do papel de coordenador não combinar com o meu perfil, sou o chefe de um poder como presidente da Câmara dos Deputados”, justificou-se.

A estratégia de Serra é conquistar os eleitores que votaram em Lula, mas que não são petistas. “A gente quer mais ou menos 15% do total dos que votaram no Lula. São os chamados soft-Lula. Queremos ainda parte dos eleitores de Garotinho e de Ciro”, explicou o marqueteiro Nelson Biondi. Segundo pesquisa do Instituto Toledo&Associados, dentre os eleitores de Garotinho, 48,3% rejeitam Lula, e apenas 23,4% se recusam a votar em Serra. Entre os que votaram em Ciro, 46,6% rechaçam o petista e somente 27,3% rejeitam o tucano. Serra já vem dando sinais de como será a guerra contra os petistas. Chegou a ponto de propor a troca do horário eleitoral por debates em pool com as emissoras de tevê. “São dois caminhos diferentes e é importante que sejam debatidos para que as pessoas tenham consciência a respeito de quais são as diferenças”, disse Serra, confiante de que vai se beneficiar do confronto direto com seu adversário. Estão na mesa de negociação debates em três emissoras: Bandeirantes, Record e Globo. Entrevista A Vida é Bela Aos 95 anos, o arquiteto Oscar Niemeyer, um patrimônio brasileiro, cultiva a simplicidade e a inabalável esperança de um mundo melhor.

No entanto, Lula foi contundente na resposta. Em menos de 20 dias de campanha, diz que é impossível participar de mais de um confronto televisivo, já que terá que viajar por 14 Estados até o dia 27. “Temos autoridade para falar disso (debates). O presidente Fernando Henrique não tem, porque não participou de todos os debates”, respondeu José Dirceu. A campanha de rua é prioridade para os petistas. Por isso estão mobilizando prefeitos e parlamentares em todo o País. As estrelas nacionais já foram convocadas para a missão de guerra. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy vai viajar para outros Estados, como Pernambuco e Rio Grande do Sul. Também sairão em campanha por Lula o senador Eduardo Suplicy (SP) e o senador eleito Aloizio Mercadante (SP). Se no primeiro turno o lema da campanha era “Agora é Lula”, no segundo round será “Agora somos todos Lula”, numa alusão aos apoios conquistados.

BC centra no jogo da sucessão

Na quarta-feira 9, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, deixou de lado a política monetária para avançar na política partidária. Depois de uma reunião-almoço de mais de três horas com o presidente Fernando Henrique e a cúpula da equipe econômica no Alvorada, Armínio, numa entrevista coletiva, abriu nova temporada de terror financeiro sobre a candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva. “Existe hoje um clima de medo de que não se vá prosseguir em trajetória de transparência fiscal, sem compromisso firme com a inflação baixa”, disparou. “O fato é que há uma insegurança sobre a condução da política econômica do futuro”, emendou. Depois de depositar o “clima de pessimismo” na conta da oposição, partiu para a cobrança de mais detalhes nas propostas econômicas do candidato do PT, além dos já divulgados. “É preciso repetir, reconfirmar, rechaçar abertamente caminhos estapafúrdios”, declarou. “Eles levam o País a uma situação de impasse e querem atribuir isso a Lula. É um tiro no pé”, reagiu o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), reiterando os compromissos com inflação baixa e respeito a contratos.

Na frente

Ou era a internet ou era a internet. Nas eleições de 2002, melhor opção não houve para quem quis ficar atualizado, minuto a minuto, na maior apuração do mundo. Entre os sites, o Portal Terra se destaca pelo modo rápido, didático e criativo de passar a informação. Quem entra no www.terra.com.br/eleicoes consegue desenhar, por exemplo, o perfil de sua zona eleitoral: que candidatos foram votados, abstenção, votos nulos e em branco. Também é possível descobrir a preferência do eleitor de cada um dos 5.561 municípios do País para os cargos de deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente. Os links levam ao número de votos de todos os candidatos, do primeiro ao último colocado. “O usuário pode cruzar os dados da maneira que quiser, tudo está à mão e em tempo real”, diz a diretora de conteúdo para a América Latina do Terra, Sandra Peccis. Ela explica que fazer uma boa cobertura no meio virtual requer muito mais do que informação precisa. Numa eleição, todas as mídias contam com uma mesma fonte: o Tribunal Superior Eleitoral. “O que vai nos diferenciar é a velocidade e o modo de apresentar o conteúdo”, explica. Há quatro meses, o Terra montou um QG na sede do TSE em Brasília. Com tudo pronto, no dia 6 de outubro os espaços eram preenchidos de acordo com a divulgação dos números. Da tarde da eleição no domingo até a segunda-feira, o Terra recebeu 175 milhões de page views (quantidade de páginas abertas) – uma audiência 20 vezes maior que a normal.
Adriana Souza e Silva

A entrevista de Armínio, acertada na reunião palaciana, aconteceu no meio de um turbilhão. Na quarta-feira 9, o dólar chegou a R$ 3,87, arrematando uma alta de 3,9% num único dia. Durante o ano, o preço da moeda americana já subiu quase 70% e segue engordando as taxas de inflação. Junto com a crise internacional, a sucessão é o pano de fundo da instabilidade, mas está longe de ser a causa principal da disparada da moeda americana, como quis fazer crer Armínio. Segundo gente do próprio mercado, ela está associada ao vencimento de mais de US$ 4 bilhões em dívidas federais corrigidas pelo câmbio nos próximos dias. Quanto mais alta a cotação do dólar, melhor para os credores. Há três semanas, especulações às vésperas de vencimentos semelhantes provocaram críticas de que o BC andava indolente com a banca. Somente na segunda 7, após o primeiro turno das eleições, o BC decidiu editar uma norma para apertar os bancos e conter a alta. A medida, aliás, de pouco adiantou. Mas Armínio rebate a sugestão de que venha servindo de ferramenta na estratégia montada pelo governo para tentar alavancar o candidato governista José Serra. “Não estou em campanha”, defendeu-se.

Sônia Filgueiras

GAROTINHO APÓIA LULA DE OLHO EM 2006

Anthony Garotinho (PSB) já é candidato a presidente em 2006 e com uma estratégia definida. Quer se projetar como opção para o eleitorado que, na sua avaliação, se sentirá órfão caso um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva recue das mudanças em razão de alianças à direita. Pretende também manter sua liderança entre os evangélicos, assumindo postura conservadora diante dos debates sobre questões como o direito ao aborto e a união civil de homossexuais. Na quarta-feira 9, depois de anunciar apoio ao candidato do PT ao lado de Miguel Arraes, presidente do PSB, Garotinho recebeu ISTOÉ em sua casa em Laranjeiras, zona sul do Rio.

ISTOÉ – Por que o sr. não quer subir no palanque com o PT do Rio de Janeiro?
Anthony Garotinho –
Não aceitamos a coordenação de Benedita da Silva no Rio. Eles foram derrotados. Vamos fazer os nossos comícios e o PT faz os dele. A campanha deles contra Rosinha foi de baixíssimo nível. Não sou cínico e hipócrita de dizer que isso tudo acabou.

ISTOÉ – E as outras forças que apóiam Lula, como a família Sarney?
Garotinho –
Por isso quero palanques separados. O PSB fará campanha, mas não vai se misturar com esse pessoal. O PSB da Bahia, onde eu tive quase 800 mil votos, fará campanha para o Lula, mas longe do ACM. Queremos saber de que lado Lula realmente está. O Lulinha paz e amor não disse nada, fez uma campanha despolitizada, o que é muito grave para um candidato de esquerda. Foi voltado para a emoção, tática do Duda Mendonça. Quem teve o papel de assumir a postura da esquerda fui eu, em todos os palanques e na campanha de tevê, dirigida com grande competência pelo Carlos Rayel.

ISTOÉ – O sr. apóia Lula por convicção ou forçado
pelos eleitores do Rio?
Garotinho –
Falta de opção. Se fiz uma campanha à esquerda de Lula, como poderia apoiar o Serra? O Lulinha paz e amor é muito pior do que o Lula de 1989, 1994 e 1998, mas é melhor do que o Serra. Gostaria de ver no segundo turno aquele Lula que já defendeu um país livre e soberano.

ISTOÉ – O sr. faria oposição a um governo Lula?
Garotinho –
Vamos aguardar. Se prevalecer a lógica econômica contra a do desenvolvimento e os investimentos sociais, não tenha dúvida.

ISTOÉ – O eleitorado evangélico aceita bem Lula?
Garotinho –
Não. Por questões de costumes. Não sei se é possível reverter isso, mas os evangélicos não farão por ninguém o que fizeram por mim. O Serra não é evangélico. Eles podem até votar no Serra, mas não farão militância. É bom lembrar que eu sou um político evangélico e não um evangélico na política.

ISTOÉ – Mas o voto dos evangélicos foi fundamental para sua boa votação.
Garotinho –
O que digo é que não sou um pastor que virou político, como o bispo Rodrigues ou Marcelo Crivella. Sou um político com minhas posições de esquerda e me converti ao cristianismo.

ISTOÉ – Qual o significado da presença tão forte dos evangélicos na política?
Garotinho –
É bom porque conscientiza uma parte grande da população que era despolitizada e usada pela direita como massa de manobra. Pela primeira vez os evangélicos votaram na esquerda. As questões que unem os evangélicos só têm a ver com os costumes. Há gente de esquerda e de direita.

ISTOÉ – A bancada evangélica no Congresso sempre esteve à direita. Isso pode mudar?
Garotinho –
Vai mudar. Temos ótimos quadros e vocês vão se surpreender com o Crivella. Tem também o Gilberto Nascimento, o mais bem votado do PSB em São Paulo.

ISTOÉ – O que o sr. vai mudar na campanha para presidente em 2006?
Garotinho –
Vou evitar que me carimbem com a marca de populista e despreparado. A eleição mostrou que sou um nacionalista. Se eu não tivesse sido competente, não teria eleito minha esposa. A reafirmação dos nossos princípios mostra que não sou populista. Se não fosse o cerco da mídia, em especial das Organizações Globo, a manipulação dos institutos de pesquisa e o ódio do sistema financeiro, eu teria vencido. Mas optei por não abrir mão dos princípios.

ISTOÉ – O PSB sempre esteve ao lado do PT. O apoio não deveria ser automático?
Garotinho –
O PSB era uma sublegenda do PT. Não será mais. Agora é um partido com projeto nacional. Quando me lancei, recebi torpedos no partido. Saturnino Braga (senador do Rio que foi para o PT) saiu e vários deram declarações contra. Tiveram derrotas consideráveis. Teve gente que nem se elegeu. Vou preparar o lançamento de candidatos a prefeito nas 200 maiores cidades em 2004.