Não se sabe se por pudor ou preguiça, mas só agora, depois de 42 anos de carreira, Nana Caymmi decidiu rechear um disco apenas com canções do pai, o compositor baiano Dorival Caymmi. A decisão foi tomada quando Stella, a filha de Nana, mostrou à mãe os originais da biografia do avô, lançada em 2001 com o título de O mar e o tempo – não por acaso mesmo nome do CD. Envolvida com as lembranças remexidas por Stella, a cantora carioca encontrou o estímulo que faltava para uma empreitada sempre desejada. Com uma trajetória de grande intérprete, muitas vezes afagando corações dilacerados através de boleros e sambas-canções, Nana injetou tons mais passionais à obra do pai. O mar de Caymmi nunca pareceu tão romântico. Ela cuidou para que tudo fosse feito com zelo respeitoso, jamais atropelando a simplicidade das músicas, todas originalmente elaboradas ao violão.

O álbum é pontuado de discretos arranjos de cordas assinados por Cristóvão Bastos e pelo irmão Dori, que também toca violão. Para completar o clã, Danilo Caymmi faz algumas intervenções de flauta, enquanto as gerações mais miúdas formam coros femininos em clássicos, como Festa da rua e Santa Clara clareou. Assim, Nana Caymmi fez um disco milimetricamente econômico, que, além de ser um tributo ao patriarca, é igualmente uma auto-homenagem à decantada musicalidade da família. Ao repertório de 14 canções, o velho Caymmi entregou à filha uma inédita: Desde ontem, bela composição dos anos 50 guardada no baú, que parece ter sido talhada para a voz da cantora.
 


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