Há uma nova escritora da melhor estirpe. Ela é Adriana Lunardi, catarinense de 38 anos, radicada no Rio de Janeiro. Adriana está lançando Vésperas (Rocco, 130 págs, R$ 23), com nove contos interligados pela idéia da morte. A autora criou personagens fictícias para representar escritoras do porte de Virginia Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Clarice Lispector ou Zelda Fitzgerald, todas mortas ou morrendo. Dito desta maneira pode parecer um livro sinistro, mas não é. Primeiro, porque a autora soube revisitar o tema sob ângulos inteiramente diferentes. Segundo, pela delicadeza da prosa e obstinação em resistir a lugares-comuns.

Para recompor o que seriam os instantes finais de Dorothy Parker, por exemplo, ela usa o cão de estimação da escritora americana, tantas vezes desencorajado a continuar gostando dela a ponto de o chutar para poder dedicar-se exclusivamente à bebida. No conto Ana C., o protagonista é um homem agonizante num hospital, que “recebe” a visita de uma amiga com mãos de gelo e olhar eternamente encoberto.É a poeta carioca Ana Cristina César quem vem ajudar o escritor gaúcho Caio Fernando Abreu a atravessar para o outro lado. A inglesa Virginia Woolf aparece cometendo suicídio entrando num rio com uma pedra no bolso do casaco, gesto extremo que a autora cerca de beleza. “A minha contribuição é refazer o caminho de Virginia e mostrar o tamanho do esforço que ela fez – talvez tenha sido igual ao de escrever – para concluir esse ato, que foi a última história de sua vida”, diz Adriana.

Formada em comunicação social, Adriana Lunardi trabalhou em jornalismo e publicidade. Atualmente, é roteirista do programa Expedições, da
TV Cultura. Casada com o também escritor e roteirista Max Mallmann, já lançou um livro de contos em 1996, As meninas da torre Helsinque, que recebeu os prêmios Fumproarte e Açorianos. Vésperas é talhado para ser o divisor de águas da sua carreira.