Está aberta a temporada de bondades eleitorais. Nesta semana, o governo deve anunciar duas boas notícias, uma para os mais pobres e outra para a classe média. A primeira – o salário mínimo de R$ 350 – deve ser formalizada com pompa e circunstância durante uma reunião do presidente Lula com as centrais sindicais e ministros, marcada para a quinta-feira 19. Trata-se de uma correção de 16,6%, mais que o dobro da inflação registrada no ano passado, costurada na quarta-feira 11, numa reunião entre o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e dirigentes de sindicatos. Ainda falta decidir se o novo mínimo valerá para março ou abril. A classe média deverá ser afagada com uma correção na tabela do Imposto de Renda. O porcentual ainda não está definido, mas, segundo um dirigente do governo envolvido nas discussões, o ajuste deve ficar entre 5% e 7%. Nesse último caso, a faixa de salários isentos de IR passaria dos atuais R$ 1.164 para R$ 1.245,48, e salários até R$ 2.488,82 ficariam na faixa de 15% de retenção na fonte.

O aumento deve ser dado à revelia da Receita Federal e do Ministério da Fazenda, que se posicionam contra qualquer alívio. Segundo a Receita, a perda de arrecadação não compensa o benefício individual que a correção da tabela promove, considerado pequeno. Se ela for de 5%, a perda será de R$ 1,3 bilhão por ano. Se ficar em 7%, chegará a R$ 1,8 bilhão. Além disso, argumenta o Fisco, abre-se mão de receita tributária, que pelo menos em tese financiaria serviços aos pobres, em favor de assalariados abastados. Renúncias fiscais para o setor produtivo, que criam empregos, seriam mais eficientes. Mas o presidente sabe que para ter chance na batalha da reeleição precisa dar um aceno à classe média, na qual, conforme as pesquisas, está a maior parte dos 20 milhões de votos que perdeu durante seu governo.