Não há dúvidas de que a entrada da mulher no mercado de trabalho trouxe benefícios. Mas também algumas desvantagens. Ela ficou mais suscetível a várias doenças por causa do stress e da má alimentação, como o infarto e alguns tipos de tumores.

Não por acaso, nos últimos anos a medicina passou a olhar com mais atenção para os problemas de saúde femininos. E, felizmente, estão surgindo boas iniciativas dirigidas à mulher. Uma delas é o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), também conhecido como Hospital da Mulher, ligado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, que oferece tratamento para os males do organismo feminino.

A instituição foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um centro de excelência na América Latina por ter conseguido melhorar as condições de saúde das mulheres lá atendidas. Em alguns casos, o hospital obteve índices de sucesso até mais positivos do que os atingidos em países de primeiro mundo.

Foi o que aconteceu, por exemplo, em relação ao combate do câncer de colo de útero, um dos mais incidentes no país. Na maior parte dos casos, a doença é causada pelo HPV (papiloma vírus humano), transmitido nas relações sexuais. O Hospital da Mulher adota um programa de prevenção e tratamento que conseguiu fazer com que a taxa de mortalidade pela doença chegasse a apenas 1,8 mulheres para cada 100 mil. No resto do Brasil, o índice gira em torno de 11 mulheres para cada 100 mil, nos Estados Unidos, 2,5, e no Canadá, 2.

Como se vê, o resultado é uma vitória. Dados do Instituto Nacional do Câncer estimam para 2002 o aparecimento de cerca de 17 mil casos da doença e aproximadamente 4 mil mortes provocadas por esse tipo de tumor. Na opinião do fundador do hospital, o médico José Aristodemo Pinotti, de São Paulo, o sucesso do programa se deve ao fato de as mulheres atendidas pelo hospital terem acesso a uma atenção integral, incluindo o exame Papanicolau, que detecta a presença do vírus, para todas que mantêm vida sexual. Isso aumenta as possibilidades de fazer um tratamento precoce da doença em caso de confirmação de diagnóstico. “Se isso acontecer, a paciente receberá um atendimento eficiente, que evitará complicações”, conta Pinotti, professor titular de Ginecologia da Universidade de São Paulo.

O Centro de Saúde da Mulher também conseguiu reduzir em 40% a taxa de mortalidade entre pacientes portadoras de câncer de mama por meio da detecção precoce do problema e a aplicação de modernas técnicas cirúrgicas para retirada do tumor. “No hospital, a mulher recebe um tratamento completo e integral, sem burocracia. Se, por exemplo, ela está na menopausa, será orientada a fazer ou não a reposição hormonal e a realizar os exames de câncer de mama”, reforça José Pinotti.

Em 1968, o médico iniciou um trabalho na Universidade Estadual de Campinas. O projeto deu certo e, em 1985, foi fundado o Hospital da Mulher, que hoje conta com mais de 200 leitos e atende em média mil pacientes diariamente. Recentemente, Pinotti recebeu uma homenagem dos próprios funcionários da entidade – um quadro pintado por Fúlvia Gonçalves, artista responsável pela decoração da fachada do prédio do Caism. Na cerimônia, estiveram presentes representantes da OMS, a prefeita de Campinas, Izalene Tiene, e professores de oito países latino-americanos. A organização também divulgou um documento no qual reconheceu a importância do Centro de Atendimento Materno Infantil (Cemicamp), de Campinas, criado por Pinotti. O centro realiza pesquisas sobre reprodução humana e anticoncepcionais.