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 O brasileiro Rui Aquino, presidente do Conselho Internacional de Aviação Executiva, tem sido ridicularizado pelos diretores da entidade, com sede no Canadá, que não se conformam com a situação das pequenas aeronaves no Brasil. Não é para menos. Desde o final de outubro, os pequenos aviões são obrigados a fazer rodízio entre 7h30 e meio-dia e entre 17h e 20h. E a situação vai piorar. Na semana passada, a Aeronáutica decidiu prorrogar pelo menos até o fim do ano a polêmica proibição do tráfego de jatinhos na área controlada pela torre de Brasília (Cindacta 1). Fruto do apagão aéreo que se abateu sobre os aeroportos brasileiros, o rodízio promete aumentar o caos que se alastra pelas áreas VIPs das cerca de 270 companhias de táxi aéreo em atividade no País. Mais do que isso, irá complicar ainda mais o acesso pelo ar à maioria das cidades no horário de pico. Dos 5.563 municípios brasileiros, apenas 110 são servidos pela aviação comercial, enquanto os demais dependem dos pequenos jatos. “Tanto para remoção de doentes quanto para o transporte de executivos que precisam fechar negócios na zona rural, todos agora são obrigados a sobrevoar o centro do País”, revolta Aquino que também é presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral.

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R$ 21,6 mil é o preço mínimo para voar em um jatinho no trecho entre São Paulo e Brasília 
56% da frota nacional é composta por aeronaves privadas
 

Com 6.318 jatos, o Brasil ocupa a
terceira posição no ranking mundial
da aviação executiva, atrás apenas
dos Estados Unidos e do Canadá. Cerca de 56% da frota nacional é composta por aeronaves privadas. Tradicional alternativa aos vôos de carreira, hoje, por conta do rodízio, as pequenas aeronaves já não conseguem oferecer flexibilidade de horário e comodidade àqueles que possuem aviões ou podem pagar por esse serviço. E o custo é alto. Na TAM, por exemplo, uma viagem de São Paulo a Brasília em vôo fretado sai entre R$ 21,6 mil e R$ 47 mil, dependendo da aeronave. “O rodízio não seria tão grave se o tráfego fosse regular e nossos clientes pudessem se planejar nos horários como fazem os motoristas de São Paulo”, compara Lair Hinojosa, do departamento de serviços aéreos da TAM. “Ficamos na fila à espera de autorização para a decolagem e não temos como garantir ao passageiro a hora exata da partida”, emenda o comandante Coutinho, também da TAM.

 

 

Na terça-feira 5, Coutinho tinha um vôo agendado para as 20h. Minutos antes, estava a postos para partir. Mas a autorização não vinha. Seu passageiro, Heitor Pinto Filho, reitor da Universidade Bandeirante (Uniban) e presidente da Associação Nacional de Universidades Privadas (Anup), acendia um cigarro no outro e lamentava a perda do compromisso que teria naquela noite. Após duas horas, pediu a Coutinho para ouvir as instruções da torre de controle. Apenas às 23h, recebeu uma posição: seu vôo estava previsto para 1h30. “Depois de quatro horas de espera, desisti de viajar e fui para casa”, conta o reitor, que faz o trecho São Paulo–Brasília ao menos duas vezes por mês. Na quarta-feira 6, chegou cedo a Congonhas, disposto a enfrentar outra maratona. Tinha de chegar a Brasília a tempo de participar de uma reunião da Anup. Desta vez, o reitor teve sorte. Conseguiu decolar pouco depois das 14h. Mas não escondia o nervosismo. O vôo de volta poderia ser novamente um tormento.