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Duas semanas depois de sair do conforto do anonimato que lhe permitia operar nos bastidores do poder, a ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo Rosemary Nóvoa de Noronha, indiciada na Operação Porto Seguro, ainda é um pesadelo para a cúpula petista. Assustada com a possibilidade de ser abandonada por seus antigos padrinhos, Rose vem emitindo recados nada republicanos para integrantes do governo e do PT. Em conversas com interlocutores, Rose ameaçou contar “tudo o que sabe” e arrastar novos personagens para o epicentro do esquema desvendado pela PF. Diante disso, nos últimos dias foi articulada uma verdadeira operação abafa na tentativa de tentar serenar os ânimos da secretária de temperamento explosivo. O objetivo é evitar que o escândalo gere danos maiores sobretudo para autoridades do governo e para o próprio ex-presidente Lula, com quem Rosemary mantinha uma relação antiga.

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SEMPRE ELE
Presidente do Instituto Lula e assessor do ex-presidente, Paulo
Okamotto esteve no apartamento de Rosemary Noronha na terça-feira 4

Para acalmar a ex-secretária da Presidência em São Paulo, foram escalados personagens de peso da cúpula petista. Entre eles, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, e o ex-ministro Luiz Dulci. Até o ex-presidente Lula entrou no circuito e conversou com Rose, conforme antecipou na última semana a colunista Mônica Bérgamo. No Congresso, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) foram destacados para fazer o meio-campo com os parlamentares e impedir no nascedouro a instalação de uma CPI. No campo jurídico, o requisitado advogado Celso Vilardi, parceiro do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos em casos de grande repercussão, assumiu o caso.

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A operação abafa foi montada no Instituto Lula, que se transformou numa espécie de gabinete de crise desde a eclosão do escândalo envolvendo Rosemary com a fraude de pareceres em órgãos públicos. Conforme apurou ISTOÉ, Okamotto foi ao apartamento de Rose, no bairro da Bela Vista, na terça-feira 4. Assim que a encontrou, Okamotto percebeu que a situação era pior do que ele imaginava. A ex-secretária da Presidência parecia transtornada. Com os cabelos desgrenhados e alterando o tom de voz, nem de longe lembrava a Rose vaidosa, flagrada na investigação da Polícia Federal trocando influência política por cirurgias plásticas. Com seu jeito zen, Okamotto disse a Rose que estava falando em nome do ex-presidente Lula e que ela não ficaria desamparada. “Calma, Rose. Segura firme. Não vamos te abandonar”. No mesmo dia, Okamotto também teve que ouvir as lamúrias do marido de Rose, João Vasconcelos, e de sua filha Mirella Nóvoa de Noronha. Eles reclamaram que o escândalo destruiu suas vidas. O diretor do Instituto Lula, o ex-ministro Luiz Dulci, também tentou convencer Rosemary a não explodir. A conversa ocorreu pelo telefone. As investidas aparentemente lograram êxito, ao menos por enquanto. Até o fim da semana, Rosemary havia adiado os planos de jogar gasolina em uma fogueira que o PT tenta apagar pelas beiradas.

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Em outra ponta, o PT também conseguiu anular a influência que o advogado José Luiz Bueno de Aguiar tinha sobre Rose. No início do escândalo, Bueno divulgou nota em nome da ex-chefe de gabinete sobre as 24 viagens que ela fez ao Exterior em companhia do presidente Lula. O PT não gostou da manifestação e interpretou o gesto do advogado como autopromoção. Por isso, articulou rápido a troca do defensor. O nome de Márcio Thomaz Bastos chegou a ser cogitado, mas o ex-ministro da Justiça ponderou junto à cúpula do PT que a associação de seu nome ao de Rosemary poderia atrapalhar mais do que ajudar, pois ele é conhecido como conselheiro de Lula. Assim, a escolha pendeu para Vilardi, que caiu nas graças do partido após livrar o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares de uma pena de dois dígitos no julgamento do mensalão. Delúbio foi condenado a oito anos e 11 meses. Os petistas temiam que o ex-tesoureiro tivesse a maior punição entre os réus do núcleo político.

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Vilardi não adianta detalhes da estratégia de defesa, mas diz que a primeira orientação dada a sua cliente foi o silêncio. “Assumi o caso agora. Ela não saiu do País. Está em São Paulo, vivendo normalmente. Nesse momento, não pode nem pensar em falar nada.” Não falar e aparecer o mínimo possível foram os conselhos do advogado a Rose. Fechada no apartamento do bairro da Bela Vista, onde mora, Rose agora vive longe da vida de mimos e bajulações que tinha à frente do gabinete da Presidência. Com o rosto estampado em jornais, revistas e televisão, a ex-chefe de gabinete já não sai às ruas sem ser incomodada e cumpre uma espécie de prisão domiciliar voluntária desde que as investigações da Polícia Federal a apontaram como operadora de um esquema de corrupção e tráfico de influência. Nem os vizinhos e porteiros do prédio a deixam em paz. Em busca de um semianonimato, ela fechou o apartamento. Desde a quarta-feira 5, sumiu dos olhos dos moradores do bairro da Bela Vista.

Convencido de que, ao menos por ora, conseguiu acalmar os nervos de Rose, o governo passou a se dedicar ao Congresso. A primeira estratégia foi chamar os inimigos para um pacto de cavalheiros e evitar uma CPI. O próprio Lula procurou o alto comando do PSDB e apelou para o bom-senso. Na conversa, segundo parlamentares do PSDB ouvidos pela IstoÉ, o ex-presidente afirmou que a oposição faz seu papel ao questionar as denúncias de corrupção no governo, mas defendeu a importância de manter a Operação Porto Seguro no âmbito das instituições democráticas, evitando ataques à vida pessoal dos envolvidos. Os tucanos concordaram e confessaram a Lula que não se sentiriam confortáveis apelando para detalhes da vida íntima de ninguém. Os oposicionistas avisaram, no entanto, que não pouparão o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, nem qualquer um dos gestores flagrados na investigação.

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Escaldado, o governo mobilizou os parlamentares aliados no Congresso. No Senado, o líder do governo Eduardo Braga (PMDB-AM) comandou a tropa de choque na audiência pública realizada na quarta-feira 5, para ouvir o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e o ministro Adams. PT e PMDB se uniram para esvaziar a reunião e deixar a oposição falando sozinha. Durante quase quatro horas de sessão, da ala governista apenas os senadores José Pimentel (PT-CE) e Eduardo Braga se dirigiram a Cardozo e Adams. Eles usaram o tempo, porém, para elogiar as instituições brasileiras, que, segundo eles, investigam “doa a quem doer” irregularidades na administração pública. Na mesma quarta-feira 5, Lindbergh Farias (PT-RJ) foi encarregado pela cúpula do PT de articular as bancadas para barrar requerimentos que possam convocar Rosemary a prestar esclarecimentos no Congresso. Na Câmara, a missão de puxar o freio e chamar os deputados da base para a operação abafa foi dada a Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O PT disse a Alves que a atuação no escândalo Rosemary será o teste final de lealdade que o governo precisa para entregar ao PMDB a presidência das duas Casas no próximo ano. Em fevereiro, o deputado peemedebista será o candidato apoiado pelo PT para comandar a Câmara. O PMDB topou a missão de entrar na operação de blindagem a Rosemary, mas avisa que cobrará a fatura na reforma ministerial prevista para o próximo ano. 

Fotos: Pedro Ladeira/Frame; Magdalena Gutierrez/Valor; JosÈ Varella/CB/D.A Press; Adriano Machado/ag. istoé


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